Não precisa ser muito sensível para notar que o drama Brooklyn, de John Crowley, é marcado por cores vibrantes, com predominância do verde e do laranja, as estampas da bandeira da Irlanda. O que quer dizer muito, já que conta a história dos imigrantes desse país que muito fizeram pela América. Só que pela ótica do amor. E que história de amor. Daquelas que eu pensei que não pudesse ser vista nos dias de hoje no cinema.
Narra a trajetória da jovem Ellie (Saoirse Ronan), a caçula de uma típica família da Irlanda que tem a proteção da irmã mais velha Rose (Fiona Glascott), que quer uma vida melhor para sua protegida, longe da mesquinhez e falta de perspectiva do lugar de onde vieram. Por isso, conseguiu um passaporte para ela tentar a sorte em Nova York, terra das oportunidades.
Lá chegando, ela vai morar numa pensão no bairro do Brooklyn, um lugar com tanto irlandês que ela chega a pensar que não saiu do bairro onde cresceu. Mas logo a triste realidade lhe bafeja na cara e ela começa a sentir saudades e o peso da solidão. O que a faz cair nos braços de um italiano encanador romântico e meio grosseirão (Emory Cohen), mas super gente boa, com uma família que é uma gracinha. A ponto da gente perceber de onde teria saído figuras como Sinatra e Martin Scorsese.
Só que uma tragédia familiar faz com que Ellie volte para casa e, ao entrar em contato com suas raízes, novamente, ela vacila quanto ao desejo de regressar à América. Caberá ao seu coração balizar racionalmente o futuro, pesando na balança, as agruras e oportunidades que o presente e o passado têm lhe oferecido.
Com roteiro escrito com sensibilidade única pelo escritor britânico Nick Hornby – autor de sucessos como Alta Fidelidade –, Brooklyn, indicado a três Oscars, inclusive de roteiro adaptado, melhor atriz para a lindíssima Saoirse Ronan e melhor filme, agrega vários valores a seu favor.
Um deles é o estupendo elenco formado por rostos desconhecidos e talentosos. A protagonista Saoirse, por exemplo, tem mostrado que é bem mais do que um lindo rosto cheio de sardas e belos olhos esverdeados. Já os atores coadjuvantes dão personalidade própria à trama. Outro ponto positivo é a maturidade na abordagem de temas universais fáceis de cair no clichê ou sentimentalismo barato, como as diabruras do amor e questões como apego às raízes e solidão.
Mas nada se iguala a beleza visual da fita com sua fotografia solar e direção de arte estilosa que realça com charme os belos figurinos femininos. O que um vestido não faz por uma boa trama…
* Este texto foi escrito ao som de: All That You Can’t Leave Behind (U2 – 2000)