Discoteca Básica (4) – The great Otis Redding Sings Soul Ballads

O cantor no auge de uma carreira de sucesso interrompida de forma abrupta

O cantor no auge de uma carreira de sucesso interrompida de forma abrupta

Você já ouviu falar em Otis Redding? Não?! Pois deveria. Isso porque alguns dos covers de sucesso cantados pelos Stones e muitas bandas formada por branquelos no início dos anos 60, foram imortalizados pelo artista. Se Pain in my heart That’s how strong my Love is são bacanas na voz de Mick Jagger, espere para se deleitar com o charme e sensualidade da perfomance do artista, morto, precocemente, num acidente de avião, em 1967, aos 26 anos. O que foi uma pena porque, justamente naquele ano ele acabara de ser eleito, pela prestigiado revista britânica Melody maker, como o “vocalista nº 1 do mundo”, quebrando dez anos de reinado de Elvis Presley. Não é pouca coisa.

Criado no estado da Geórgia, Otis Redding começou a cantar no coral da igreja e já mostrou que tinha talento ao ganhar um show de talentos por 15 semanas consecutivas. Aos 15 anos, ao assistir a um das eletrizantes apresentações de Little Richard, no clube da cidade em que cresceu, decidiu de vez que seguiria carreira de cantor e saiu de casa para conquistar um lugar ao sol. Brilhou.

Lançado em março de 1965, The great Otis Redding Sings Soul Ballads pode não ser um dos melhores trabalhos do artista na opinião da crítica, mas toca muito bem na jukebox lá de casa. Estrela da Stax Records, o disco é marcado por aqueles ousados arranjos de metais que encaixavam com perfeição à voz gostosa do cantor. That’s how strong my Love is já pega você pela garganta e te joga no chão. A baladona Chained and bound  é um convite sacana para o amor. “Querida, agora, você me fez mudar de idéia/Pode ir mais longe, porque você me tem acorrentado e amarrado”, desabafa.

Na romântica Come to me, a habilidade do artista em trabalhar a voz em detrimento da emoção. Encerra o álbum a contagiante Mr. Pitifil, canção dançante que é uma espécie de síntese do estilo que marcaria a curta trajetória do artista. E esse sucessão de autoria de Otis Redding que, além de cantar muito bem, também era um senhor hit maker.

* Este texto foi escrito ao som de: The great Otis Redding Sings Soul Ballads (Otis Redding – 1965)

Otis redding 2

Tim Maia (2014)

O ótimo ator Badu Santana não consegue fugir da caricatura do polêmico cantor

O ótimo ator Badu Santana não consegue fugir da caricatura do polêmico cantor

O chato é que a maioria das pessoas que vão assistir ao filme Tim Maia, só conhece o artista das músicas de coletânea ou pelos milhares de escândalos e polêmicas que ele se envolveu ao longo da vida. Mas tudo bem, quem sabe depois de ir ao cinema e ver a cinebiografia, o sujeito se interessa a ouvir, para valer, os trabalhos do início da carreira do cara, onde estão gravados os melhores trabalhos, sem fazer, digamos, “juízo de valor”.

Mas a julgar pelo filme de Mauro Faria, tal desafio será difícil de realizar, acontecer. Isso porque o longa-metragem que entrou em cartaz esta semana em todo o país, deixa muito a desejar em vários aspectos. Baseado na boa biografia de Nelson Motta lançada em 2006, o projeto escorrega na narrativa maçante, na caricatura dos personagens e na abordagem patética de alguns episódios. O rei Roberto Carlos, por exemplo, ao contrário do livro, é mostrado de forma imbecilizada, na pele de um bobão aproveitador e traidor. A sequência do primeiro encontro entre os dois amigos, após o sucesso do primeiro, parece piada e, eu, se fosse o Robertão, processava a produção. Aqui, sim, caberia um processo.

Os dois atores que vivem o cantor em cena – Robson Nunes e Babu Santana -, por mais que se esforcem, não conseguem fugir do caricatural e superficialismo. Daí tem o fator sentimento (e não sentimentalismo) que transbordou com sinceridade no roteiro de projetos idênticos como Dois filhos de Francisco e Gozanga – De pai para filho e que aqui não passa nem perto.

Quem narra a história é Fábio (Cauã Reymond), um cantor romântico dos anos 60 que Tim Maia 2chegou a emplacar um grande sucesso na época, o hit Stella, mas que não passou disso e que se viu, de repente, boa parte da vida como músico de apoio e grande amigo de Tim. Ele conta como o “Tião Marmiteiro” cresceu complexado com o fato de ser pobre e um mulato “sem chance na vida” e como essa condição à margem desde a infância pobre e difícil, na Tijuca, o levaria a tentar a sorte nos Estados Unidos, depois de brigar com Roberto Carlos quando os dois faziam parte do grupo musical os Sputniks.

Ao voltar, depois de ser deportado por roubo e envolvimento com drogas, Tim Maia se vê na rua da amargura mais uma vez, mas a vida parece lhe esboçar um sorriso depois de um encontro com o rei Roberto Carlos em São Paulo. O sucesso, a rápida passagem por Londres, sua conflituosa relação afetiva, o envolvimento com a obscura seita Cultura Racional e os anos de vício pesado com drogas e bebida estão lá, mas narrados de forma tão sórdida e fake do ponto de vista da narrativa, que até dá desânimo de ver o filme até o fim.

A trama só começa a esquentar quando entra em cena a música e o genial gingado soul do artista que, junto com Jorge Ben, sacudiu o cenário musical com uma mistura envolvente de samba, rock, soul e MPB. O momento em que o ator Badu Santana levanta a galera ao som da contagiante, A Festa de Santo Reis – sucesso do segundo disco de Tim, de 1971 -, é de arrepiar. Aliás, era aqui onde eu queria chegar, ou seja, que alguns artistas são praticamente impossíveis de serem retratados no cinema. Deveriam ser conhecidos apenas pelas obras em si e nada mais.

* Este texto foi escrito ao som de: Tim Maia (1971)

Tim Maia