“Eu não explico o inexplicável, meu caro Otto”, disse ele, mãos dramáticas no peito, num programa de televisão, ao grande jornalista e intelectual Otto Lara Resende.
A dor da perda é algo massacrante. Um vazio enorme dentro do peito, um buraco negro em nossa alma, enfim, em nosso ser que nunca irá se fechar. E a incompreensão diante daquilo que não entendemos ou não queremos entender só aumenta esse fosso entre a razão e a emoção. Como entender a morte? Como superar a perda? Sim, porque amanhã vamos acordar e ele não estará mais lá. E a pergunta que faço sem pestanejar, em meio a um turbilhão de revolta interior é: onde está deus nisso tudo? E eu, um ateu convicto e solitário em minha convicção digo obtusamente, não sei.
Por isso que o desespero é grande, a angústia uma fenda que nunca irá se fechar. E quando escrevo isso só penso na dor da família do meu amigo que foi embora cedo demais. “É tão estranho/Os bons morrem jovem”, cantou certa vez Renato Russo na melancólica Love in the aftenoon. “Uma vida inteira que podia ter sido e que não foi”, escreveu o grande poeta Manuel Bandeira em Pneumatoráx.
Bem, ele era um jovem cheio de energia, bonito, alegre, com uma vida inteira pela frente, sonhos a realizar e agora tudo se resumirá às boas e saudosas lembranças em nossa memória que ficarão e que elas sejam eternas.
Hoje acordei mais triste, machucado, com um sentimento cinza dentro de mim com esse céu plúmbeo opressor sob a minha cabeça que só me faz sentir menor do que já sou. E nós somos assim, insignificante diante de cenas tristes da vida como essa. “Por que os bons morrem cedo?”, reverbera em minha cabeça a pergunta do bardo brasiliense naquela canção triste. Bom, se eu soubesse rezar faria uma oração para espantar toda a dor que guardo dentro do meu peito agora e rezaria em homenagem à alma de meu amigo que foi embora cedo demais. Mas como não sei nem falar o Pai Nosso e perdi a fé na metafísica, leio um verso de Vinícius de Moraes, cujas linhas líricas nesse momento, afagam minha dor que parece ser infinita. Por que me sinto como aquele personagem da canção Svefn-G-Englar do Sigur Rós, ou seja, caindo em falso…
“Não há muito o que dizer/(…) Um verso, talvez, de amor/Uma prece por quem se vai/(…) Pois para isso fomos feitos/(…) Para ver a face da morte/(…) Hoje a noite é jovem: da morte, apenas nascemos, imensamente”, diz o poetinha em Poema de Natal.
E o nosso Natal este ano será triste e de uma melancolia perturbadora… Às vezes me sinto assim com vontade de não existir… O que fazer quando o chão que pisamos vai embora?
O arquiteto Oscar Niemeyer é que tinha razão… A vida é um sopro!