Cap.2 Keith revela seus primeiros ídolos

Em Vida, Keith Richards revela como o single Heartbreak hotel, de Elvis Presley, fez sua cabeça

 Keith Richards conta em Vida, sua biografia que acaba de sair no Brasil, que detestava a escola. E nem era por cauda ifnluência da música em sua vida. Primeiro porque a comida era horrível. Segundo porque volta e meia era intimidado pelos outros alunos que viviam caçoando dele. As surras eram inevitáveis. “Me chamavam ‘Monkey’ (macaco) porque minhas orelhas eram de abano”, lembra. “Todo mundo tinha algum apelido”, emenda.

A primeira vez que apareceu com olho roxo em casa, mentiu para mãe Doris. “Era melhor dizer que eu tinha caído da bicicleta”, narra no livro. Mas um dia, como num happy end de cinema, por pura sorte, consegue nocautear o valentão da escola, bem mais alto e forte do que ele. Foi um duelo de Davi e Golias. “Como os poderosos caem! Ainda consigo me lembrar da surpresa retumbante que foi aquele sujeito indo para o chão”, recorda.

Aluno medíocre, que exibia nenhum progresso nas matérias de exatas, Keith começou a ter reputação depois de ingressar no coro como soprano. “Foi aí que aprendi um monte sobre cantar, sobre música e sobre trabalhar com músicos”, observa.

Mas o tempo é implacável e, com a mudança da voz na adolescência, tenta o escotismo. A princípio, pela mera satisfação de poder usar uma faca na cintura. Mas o tiro acabaria saindo pela culatra. “De repente, depois de apenas três ou quatro meses, estou com quatro divisas e promovido a líder da patrulha”, se diverte. “Tudo isso serviu para me inspirar autoconfiança num momento crucial”, continua.

Um dos momentos emocionantes do segundo capítulo de Vida é quando o guitarrista dos Rolling Stones revela como a figura do avô materno Gus foi determinante para sacramentar seu amor pela música. Aliás, a primeira vez que o guitarrista dos Stones pegaria num violão seria o do vovô Gus, que nos anos 50, liderava uma banda de música. O grupo chamava Gus Dupree and his boys.

“Ele tocava em casamentos judeus e eventos maçônicos e voltava com pedaços de bolo no estojo de seu violino”, detalha Keith.

Outro momento bacana do capítulo 2, pelo menos para quem gostar de colecionar raridades, é quando Richards revela quem foram seus primeiros ídolos. Segundo ele, o primeiro disco que comprou na vida foi Long tall Sally, do Little Richard. “Um disco fantástico até hoje. Bons discos só melhoram com o tempo”.

Keith levou dois anos para saber que Little Richard (foto) era negro e Jerry Lee Lewis era branco

Mas o som que faria sua cabeça para sempre, o arrebatando de forma implacável seria Heartbreak hotel, single de um sujeito que ele nunca tinha ouvido falar até então. “Aquilo foi um arraso. Eu nunca tinha ouvido um som como aquele, nem nada parecido. Nunca tinha ouvido falar em Elvis até então”, revela Keith, que incrementaria sua coleção de discos com o crème de la crème da gravadora Sun à reboque de sucessos como Mystery train, Money honey, Blue suede shoes e I’m left, you’re right, she´s gone.

A partir daquele momento, a música grudaria em suas entranhas para sempre, trazendo no bojo além de Elvis e Little Richard, nomes como Buddy Holly, Eddie Cochran, Jerry Lee Lewis, Fats Domino e tantos outros. “Levei dois anos para descobrir que Little Richard era negro e Jerry Lee Lewis era branco”, ri, mais de 50 anos depois. 

E pensar que hoje em dia, com todo esse aparato desenfreado da mídia tecnológica, somos capazes de saber até o tipo sanguíneo de nossos ídolos…

Orgias gastronômicas!

O cineasta iltaliano Marco Ferreri tinha o dom da polêmica

Para o dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues, cada um de nós carrega dentro de si, no mais recôndito âmago, cavernas, pântanos que não convém desenterrar. O diretor italiano Marco Ferreri provavelmente nunca ouviu falar do autor de Vestido de noiva, mas com certeza concordaria em gênero, número e degrau, com cada palavra proferida acima. Mestres da polêmica, os dois artistas sabiam chocar a sociedade do seu tempo ao escancarar as obsessões mais doentias do ser humano.

Outro dia resgatei da minha estante dois trabalhos perturbadores do cineasta italiano que não via há bastante tempo.  Na verdade nem lebrava mais de como eram as histórias destes filmes. Então, limpei a poeira da capa, botei no aparelho e deixei que essas narrativas macabras sobre a alma humana me espantassem.

Dirigidos em décadas diferentes, A comilança (1973) e Crônica de um amor louco (1981), assim como grande parte da filmografia de Ferreri, durante muito tempo foram proibidos de ser exibidos em vários países mundo afora, inclusive no Brasil. Coube à Versátil Filmes resgatar essas pérolas cults do limbo para deleite dos cinéfilos. Os dois trabalhos são de uma virulência estética e temática incríveis. Um escândalo, de fato. Confesso que fiquei angustiado depois de rever esses registros. Se você estiver numa fase ruim da vida, passe bem longe dessas duas produções. É um conselho que dou.

Em Crônica de um amor louco, o ator Ben Gazarra vive poeta maldito inspirado no beatnick Charles Bukowski

Baseado, em parte na vida e obra do escritor beatnik Charles Bukowski, Crônica de um amor louco persegue os passos perdidos de um personagem marcado pela decadência pessoal. Poeta maldito, Charles Serking (Ben Gazzara) – espécie de alte rego de Bukowski – vaga perdido pelo lado mais sujo das ruas de Los Angeles. Na sua jornada por este Walk on the wild side, ele esbarra e tropeça o tempo todo em bandidos, prostitutas, cafetões e bêbados sujos. Ou seja, a escória do mundo. “Só preciso ficar invisível às vezes. Me afundar no lixo, me perder com todos os outros. Os fracassados, os dementes e os malditos”, avisa.

Até um dia se encontrar com a garota de programa Cass (Ornella Muti). Solitária, angustiada, uma desalmada que gosta de marcar seu corpo com objetos estranhos, esse projeto de suicídio ambulante encontra afago momentâneo no mundo deprê de Serking. De longe, até parece que são feito um para o outro. A parti daquele instante, os dois passarão a viver uma paixão tórrida, cheia de curtos-circuitos, momentos obscuros que, com o tempo, irá degringolar para um desfecho trágico. É a decadência em seu estado mais puro.

Incrível como Ferreri consegui captar com primazia o submundo traçado por Bukowski sem parecer grotesco ou vulgar, embora, altamente bizarro. A passagem em que o poeta Serking enrraba sua conquista na janela do seu apartamento imundo, sob as luzes de neon, é de um lirismo niilista sufocante. Impecável na sua atuação, o ator Ben Gazzara, dono de uma voz gutural, foi astro de um filme do brasileiro Walter Hugo Khouri no início dos anos 90, onde contracena, entre outros, com Cecil Thiré, John Herbet, Vera Fischer e, olha vejam só, Ana Paula Arósio, num dos seus primeiros trabalhos de peso.

Sexo e comida, dois prazeres inseparáveis – Mas nenhum trabalho de Marco Ferreri causou maior polêmica do que sua obra-prima, A comilança, do original (La grande bouffe), uma ofensa, em todos os sentidos, aos princípios cristãos. A bizarrice norteia o enredo do começo ao fim. Na trama, quatro amigos interpretados por um quarteto de luxo (Marcello Mastroianni, Ugo Tognazzi, Phillipe Noiret e Michel Picolli), decidem se isolar do mundo numa mansão sinistra, com todo aspecto de filme de terror. Decretam comer até morrer. E o verbo comer aqui é conjugado das mais sacanas formas possíveis, se é que vocês me entendem.

Em A comilança, quatro amigos selam o bizarro pacto de comer até morrer

O pacto sinistro selado por esses homens respeitáveis da sociedade, um deles inclusive juiz, cavalheiros distintos me fez lembrar de uma fala do diretor pernambucano Cláudio Assis, no filme Amarelo Manga. É quando ele, com o copo de bebida na mão, irrompe do nada, no meio da história, para dizer, com a cara toda amarfanhada, olhando diretamente para câmera, que o ser humano se resume a duas coisas: “sexo e estômago”.

No filme de Ferreri, esses dois elementos são levados em consideração ao extremo. Aparentemente pacatos, dóceis, o quarteto fantástico aos poucos deixa suas máscaras caírem, revelando um pântano de verdades sombrias, decadentes. É bem provável que o diretor italiano tenha se inspirado no macabro O anjo exterminador, do mestre espanhol Luís Buñuel, para escrever esse roteiro. Rodado em 1962, no México, a história gira em torno de um grupo de amigos que são obrigados a ficar presos numa casa por forças sinistras. Talvez Júlio Bressane tenha recorrido as duas histórias para construir o enredo de Filme de amor, no qual três amigos suburbanos se trancam num quarto para um fim de semana marcado por orgias, e devaneios existenciais.

No filme de Ferreri, o farto bouffe é orquestrado pelo personagem Ugo (estranhamente todos os atores aparecem com seus nomes reais), um excelente gourmet responsável por preparar os mais deliciosos e sofisticados pratos. Um dos banquetes desses anárquicos do sistema é servido com a presença de prostitutas e de uma professora que, em meio ao caos moral que se instala na casa, acaba se revelando uma grande vagabunda. Ou seja, ninguém é o que aparente ser. Nem mesmo eu e você.

Aliás, a presença “inusitada” dessa ilustre representante da camada burguesa, elucida a crítica ferrenha de Ferreri ao cinismo e hipocrisia da sociedade de seu tempo. Crítica essa sacramentada com a presença do astro Marcello Mastroianni, este visto nas telonas sempre um símbolo da moral e dos bons costumes. Em A comilança, o astro italiano surgi como um autêntico canastrão pervertido. Hilária, por exemplo, a cena em que ele aparece brincando com uma de suas sobremesas deliciosas com um tapa-olho na cara.

Mastroianni comendo uma de suas sobremesas em A comilança, de Marco Ferreri

Noutra sequência, enquanto seus amigos se deliciam com um banquete suntuoso, ele enrraba seu prato preferido contra a parede. Uma cena impensável de se ver com o sempre elegante Mastroianni.

Engana-se quem encara A comilança como um soft pornô. Simplificar essa obra-prima do cinema bizarro com tal definição preconceituosa é ser limitado. O filme está longe desse rótulo clichê, se aproixmando mais de uma sinistra obra de arte, recheada com ingredientes importantes como dramas humanos, obsessões doentias, crítica ao sistema vigente e humor, bastante humor negro, diga-se de passagem. A cena em que Ugo Tognazzi aparece imitando Marlo Brando em O poderoso chefão, na pele de Don Corleone, um grande sucesso daquele ano, é impagável. Noutra sequência, talvez a mais grotesca do filme, ele empanturra-se de comida ao mesmo tempo em que é “masturbado” pela professora calipígia até a morte. Ou seja, assim como os demais colegas, o personagem é, simultaneamente, vítima dos dois prazeres inseparáveis da humanidade: o sexo e a comida. “Não se morre comendo”, chega a desabafar, em vão, um deles. “Acharam a pior forma de morrer!”, branda. Mas no filme de Ferreri, ninguém escapa ileso. Nem mesmo o público.

Em busca da inocência perdida

Gravura publicada na primeira edição do livro, em 1876

Por que sempre olhei com certo desdém para obra do escritor Mark Twain (1835 – 1910) é um enigma que vai perdurar por um bom tempo na minha vida. O fato é que recentemente li duas obras escritas por este autor genial considerado o pai da literatura moderna norte-americana e virei um grande admirador.

Outro dia mesmo, num encontro no CCBB de Brasília, o jornalista Nelson Motta estava dizendo o quanto Twain era brilhante. Disse, inclusive, que Monteiro Lobato provavelmente inspirou-se nas histórias regionalistas do artista para escrever O sítio do Pica-Pau Amarelo. E, se você for analisar, tem tudo a ver mesmo. Os dois pelo menos têm em comum a acusação de serem racistas, segundo observações de teóricos literários desocupados. Pura bobagem, claro.

Enfim, depois de me esbaldar com a crítica feroz à burguesia e às injustiças humanas de O príncipe e o mendigo, foi a vez do lúdico As aventuras de Tom Sawyer me arrebatar. O que mais me chamou atenção nesse livro escrito em 1876 é a simplicidade da narrativa. Mais ainda o tema abordado por Twain, que revisitou seus tempos de menino sapeca no Missouri, quando, entre outras coisas vasculhava as cavernas da região, para construir uma trama repleta de nostalgia, inocência e valores como amizade e o amor ao próximo.

Também fala de novas descobertas com o primeiro amor, aquele que a gente nunca esquece, e do rito de passagem da infância para outra fase da vida, a adolescência. Um caminho pelo qual todos, sem exceção, são obrigados a trilhar.

A história gira em torno do encapetado Tom Sawyer, típico garoto da região do rio Mississipi que engabela a rotina do dia-a-dia aprontando traquinagens por onde passa. Ele é tão endiabrado que nem mesmo sua tutora, a tia Polly, põe a mão no fogo por ele, a ponto de castigá-lo mesmo quando este não fez nada. “Então fica como lição da próxima arte que você aprontar”, justifica a matriarca, ao castigá-lo equivocadamente.

Twain recorreu às memórias de infância para dar vida ao endiabrado Tom Sawyer

Ao se juntar ao igualmente atentado Huckleberry Finn (que mais tarde viraria personagem de outro livro escrito por Mark Twain), aprontam as maiores confusões envolvendo os moradores e as autoridades da pequena aldeia onde vivem. Até um dia presenciarem um assassinado no cemitério da cidade que o levarão a descoberta de um tesouro perdido. O desfecho, como em toda trama de Twain, é pontuada por edificante lição de moral.

A edição que tenho em casa é da Ediouro, com tradução do jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, um dos meus ídolos. Adaptado algumas vezes para o cinema, As aventuras de Tom Sawyer, me fez lembrar de outras histórias envolvendo um grupo de crianças da literatura e do cinema. Entre elas, claro, estão aquelas escritas pelo próprio Monteiro Lobato e quase sempre protagonizada pela boneca de pano Emília e sua turma. Outra história que tracei paralelo é O sol é para todos (To kill a mockingbird), da escritora Harper Lee.

Mas as aventuras de Sawyer e seus amigos me fizeram voltar no tempo e recordar da minha infância querida que não volta nunca mais. Dos dias em que, mancomunado com colegas de rua, a turma da escola, primos, vizinhos, além de meu irmão, aprontávamos as mais loucas farras sem a preocupação com as responsabilidades e peso da vida adulta. Era um tempo de inocência que guardo com saudade e carinho na memória.

The only shining girl In New York

"Blackbird singing in the dead of night".

Então um pássaro negro (blackbird?!) pousou em minha janela só para dizer que agora ela flana em Nova York. Descansa, merecidamente, na Big Apple. Será que curti seus gloriosos dias de folga ao lado da filhota? A mãe, companheira e amiga de sempre anda ao seu lado?

Apesar do seu estilo europeu, com aquele sorriso renascentista e expressão angelical, ela bem que tem a cara da grande metrópole norte-americana. Será porque ela conhece tão bem a cidade? Tão bem quanto a palma da sua mão?

Meu Deus, como gostaria de ouvir da sua boca as impressões, sensações, vibrações dela sobre a cidade de Frank Sinatra, o lar, doce lar, de Woody Allen! Mas como, se não sou filho de diplomata, se não ostento nenhum tipo de poder? Se eu fizesse parte do seu seleto grupo ela dividiria comigo suas alegrias nova-iorquinas?

…Seus passos perdidos vagam pela 5ª Avenida, a alma estelar vislumbra as calçadas da Broadway, com a filha a tiracolo se encanta com os enfeites de Natal e as vitrines coloridas saindo do subway, enquanto flocos de neves espectrais chamuscam seu rosto de anjo renascentista! Bem que um daqueles outdoors elegantes da Times Square poderia exibir uma mensagem assim: Saudades!!! No Central Park, “blackbird singing in the dead of night”…

"Um daqueles elegantes outdoors da Times Square bem que poderia exibir uma messagem assim: saudades!".

Um dia, quem sabe, quando ela se desvencilhar da sua soberba burguesa, eu possa sentar num café qualquer da cidade só para ouvir suas aventuras pela Big Apple, pelas ruas milenares do velho continente, pelos recantos paradisíacos do Brasil.

Um dia poderei fazer perguntas ao léu, como quem cata estrelas no céu só para guardar dentro de um baú de sentimentos e afetos. Um dia, como quem driblando utopias, sonharei sonhos reais e não esquecerei jamais desses dias de ternura…

…A noite segue, insônia castiga meus olhos, minha mente cansada. Vento frio sopra lá fora, as nuvens rosa flamingo avisam que a chuva está vindo. Na melancolia do quarto, Paul Simon e Gartfunkel canta que há um garoto vivendo sozinho em Nova York (The only living boy in the New York). E eu só penso na minha garota que brilha pela cidade de Joe DiMaggio.

Agora o pássaro negro da noite não está mais em minha janela!

Cap. 1: Keith Richards preso no Arkansas

Ron Wood e Keith Richards: As duas "bichinhas cabeludas inglesas" prestando depoimento na provinciana cidade norte-americana de Fordyce

Finalmente estou lendo a biografia de Keith Richards, Vida, que saiu aqui no Brasil pela editora Globo. Tive que comprar na Livraria Cultura de São Paulo, aquela da Paulista, já que a de Brasília, dizem eles, só chegará em Dezembro. Acho que estão esperando que o próprio Keith desembarque aqui de Papai Noel pirata para entregar o lote reservado às filiais da cidade.

Enfim, estou adorando a leitura. Me impressiona a sinceridade do guitarrista dos Stones, um sujeito transparente e sem medo de olhar para trás. O cara não tem papa na língua e apresenta uma forma peculiar de ver as coisas que aconteceram com ele. O livro, me parece, é uma forma de expurgar esses demônios, fantasmas do passado. “Vivi uma vida um pouco diferente do que a média das pessoas”, admite.

A empolgação é tanta que daqui até o final da leitura vou escrever pequenos drops dos capítulos já lido. Breves comentários e informações para aqueles que ainda não adquiriram a obra.

O livro já começa acachapante. Conduz o leitor dentro de uma história bizarra, cercada de lampejos junks, beatnik, narrando estranho episódio envolvendo Richards e um grupo de amigos em meados de 1975, quando foram abordados por policiais no Arkansas, na região do Cinturão da Bíblia (aquele tão bem descrito pelo escritor Sinclair Lewis), durante a turnê norte-americana dos Rolling Stones naquela região.

Vale lembrar que na época, o governo Nixon, o mesmo que perseguia John Lennon sob suspeita de ser um agente comunista, havia declarado oficialmente que Mick Jagger e companhia formavam a banda de rock ‘and’ roll mais perigosa do mundo. Lendo isso, 35 anos depois, é de chorar de morrer de rir.

Mas engraçado mesmo foi na confusão em que Keith e Ron Wood se meteram ao se depararem com os provincianos policiais da cidadezinha de Fordyce, todos eles sedentos para pegar aquelas “bichinhas cabeludas inglesas” e metê-las no xadrez. E o problema nem era as longas madeixas, mas a quantidade exorbitante de haxixe, maconha, heroína, cocaína e outras drogas pesadas que estavam escondidas naquele Chevrolet Impala amarelo, novinho em folha.

Detidos, levados para a cadeia, de repente eles se deparam com um delegado vingativo, um juiz alcoólatra e fanfarrão, um promotor público medroso e advogado criminalista disposto a livrá-los do abuso de poder das autoridades locais. Do lado de fora mais de dois mil fãs dos Stones gritando o nome do guitarrista. O desfecho é igualmente absurdo e hilário. É ler para crer. “Mas que fim levou o carro?”, pergunta, mais de três décadas depois, Richards. “Tenho curiosidade para saber o que aconteceu com aquela muamba toda. Talvez eles não tenham removido os painéis. Talvez alguém ainda esteja guiando aquele carro, com drogas até a tampa”, debocha.

Por um Festival de Brasília renovado

O Cine Brasília, assim como o Festival, precisam de renovação!

Quando cheguei a Brasília há mais de 10 anos atrás me assustei com a rotina da cidade. Já conhecia o Planalto Central das férias que passava em casa de parentes, mas me angustiava aquela solidão urbana, a amplitude do cerrado. Desolação pura. Alguns lugares lembravam uma daquelas telas do norte-americano Edward Hopper. Enfim, desolação pura mesmo. Para piorar as coisas, as pessoas se mostravam indiferentes, meio esnobes, manifestando uma personalidade condizente com a arquitetura fria da urbe projetada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Com o tempo, percebi que este distanciamento era alo inerente ao jeito de ser do brasiliense.

Como fuga, me refugiava na Biblioteca Demonstrativa, catedral de livros situada em ponto estratégico da W3 Sul, e no Cine Brasília, o templo da Sétima Arte da cidade. O bacana era que um ficava bem próximo do outro, apenas alguns minutos de distância, o que já economizava no dinheiro do ônibus, da comida.

Não esqueço até hoje dos livros que li entre as estantes abarrotadas da Demonstrativa, obras que marcaram aquele período barra pesada da minha vida como o existencialista João, o Pelegrino, do finlandês Mika Watari, e o assustador romance O retrato de Dorian Gray, do irlandês Oscar Wilde. Foi ali também que li as biografias de Lewis Caroll, o pai da menina Alice, e a trajetória do vulcão baiano Glauber Rocha, escrito pelo conterrâneo João Carlos Teixeira Gomes. Bons tempos aquele em que não precisava gastar dinheiro comprando livro. Às vezes, cansado, dormia em cima deles.

Já no Cine Brasília, tive a oportunidade de conferir o universo hermético de mestres como Júlio Bressane – ver São Jerônimo naquela telona com a sala vazia foi uma experiência inesquecível – e de produções independentes de países de fora do mainstream cinematográfico, grande parte disponibilizados pelas embaixadas. Essa é uma das vantagens de se viver numa cidade cosmopolita e o Cine Brasília tem papel importante na fomentação dessa cultura.

O Cine Brasília, aliás, também é a casa do Festival de Cinema mais importante e tradicional do país. Evento que este ano segue para sua 43º edição. Acompanhei muitas sessões da emblemática mostra dos degraus do cinema, porque o público prestigia em massa, e fiz a cobertura por cinco anos seguidos do encontro na condição de repórter. A experiência foi grande, o que só fez aumentar o carinho pelo espaço.

Mas confesso que não estou com a menor vontade de acompanhar a edição deste ano. Acho que o festival perdeu um pouco da sua importância política, com a mesmoa patotinha, a mesma panelinha todos os anos se desgastando por conta das más administrações do governo local e pela queda de braço ridícula travada entre os organizadores e os artistas. De um lado a arrogância e incompetência. De outro a vaidade quase shakespeareana.

Fora isso, a lista dos filmes selecionados nos últimos anos tem sido desencorajadora, com o nível abaixo da média. Em alguns casos, de dar vergonha mesmo. Não sei se a qualidade dos filmes brasileiros caiu de uns anos para cá ou se a comissão que escolhe os candidatos ao prêmio Candango é que são fracos. Acho que as duas coisas.

De qualquer forma, o que o evento mais importante do cinema brasileiro precisa é de renovação. Não só a sede, o prédio que está caindo aos pedaços há muito tempo, mas o próprio conceito do festival, sucateado como uma capa de guerra.

Anthony Quinn e as sandálias de Pedro

Anthony Quinn encarna um Papa no drama político As sandálias do pescador

Não teve jeito. Com sua carranca dura e olhos penetrantes, o ator Anthony Quinn estava fadado ao estrelato como um dos nomes mais expressivos do cinema. Mas não no seu país, o México. E sim na Meca da sétima arte, Hollywood. Nascido Antonio Rudolfo Oaxaca Quinn, na cidade de Chihuahua, o astro começou a carreira nos anos 30, em Los Angeles. O primeiro grande papel seria em 1941, encarnando um toureiro em Sangue e areia.

Mas a consagração viria 11 anos depois, em 1952, no político Viva Zapata! Na fita, dirigida por Elia Kazan e com roteiro de ninguém menos do que John Steinbeck, o ator é Eufemio, irmão do personagem título vivido por Marlon Brando. A interpretação lhe renderia o primeiro Oscar de ator coadjuvante. O segundo seria em Sede de viver, como o pintor francês Paul Ganguin.

Dono de um rosto exótico, Quinn, que tinha descendência irlandesa, mostrou talento de sobra ao interpretar inúmeros papéis diferentes nas telonas. Foi o corcunda de Notre Dame, no clássico da literatura universal escrito por Victor Hugo, Átila, o rei dos Hunos, o inesquecível grego Zorba, no grande sucesso de 1962, e o ladrão Barrabás, no clássico bíblico de 1960. Tenho carinho por cada uma dessas atuações. Mas nenhum mais marcante do que o artista cigano Zampano, de A estrada da vida, do mestre Fellini.

Recentemente vi mais um filme da sua vasta filmografia e fiquei impressionado. Dirigido em 1968 por Michael Anderson (do ganhador do Oscar A volta ao mundo em 80 dias), As sandálias do pescador traz Quinn na pele de um Papa em pleno conflito geopolítico. A trama, baseada em livro homônimo escrito pelo jornalista e escritor australiano Morris West, é ambiciosa, ousada, por conta dos conflitos de ordem social no qual o mundo, em plena Guerra Fria, vivia na época.

Quinn encarna o célebre personagem do clássico La strada, do mestre Fellini

O elenco é poderoso, traz, entre outros nomes de peso, o do diretor e ator italiano Vittorio De Sica, em ponta de luxo, e do grande ator inglês Laurence Olivier. Mas é o ator austríaco Oskar Werner quem brilha ao lado de Quinn no papel de um padre rebelde que questiona os dogmas da Igreja Católica com suas ideias repletas de ecos da ciência. A inspiração para a construção do personagem foi o polêmico religioso e paleontólogo francês Teilhard de Chardin.

Um parêntese. A figura de Chardin teve uma importância marcante na minha vida porque já fui coroinha uma vez, bastante ligado aos ensinamentos de Jesus, da Igreja Católica e minhas incertezas sobre a escolha deste caminho resvalaram nas ideias do jesuíta francês. A primeira vez que ouvi falar dele foi por meio da editora Martin Claret e sua compilação O pensamento vivo…. Era uma coleção bacana, mas bem simples que introduzia os leitores curiosos, aqueles que estavam começando o hábito da leitura, sobre a trajetória de personalidades importantes da história como John Lennon, Jim Morrison, Mahatma Ghandi, Charles Chaplin, Oscar Wilde, entre outros.

Mas voltando ao filme, As sandálias do pescador tem trama ambientado no Vaticano e narra os passos do russo Kiril Lakota (Quinn), um religioso que passou 20 anos da vida preso por suas convicções políticas. Um dia, do nada, o primeiro ministro do seu país o liberta com a missão de salvar o mundo de uma ameaça eminente de guerra. O inimigo em questão é a gigante China. Mas para tanto, deverá calçar as sandálias do apóstolo Pedro, o discípulo de Jesus, fundador da Igreja Católica.

A partir do momento em que ele pisa os pés no minúsculo país religioso sediado em Roma, se vê personagem de intrigas palacianas e confuso jogo de poder que interfere não apenas na rotina de poderosos chefes de Estados, mas dos religiosos que se escondem por trás dos sombrios muros do Vaticano. Vaidade, soberba, abuso de poder, intolerância, são alguns dos ingredientes trabalhados pela dupla de roteiristas John Patrick e James Kennaway. “Muitos cristãos justificam crimes em massa pela guerra. Queira Deus que considerem a guerra um crime também”, questiona, em dado momento da fita, o personagem de Quinn.

O escritor Morris West profetiva em seu livro a chegada de João Paulo II ao poder no Vaticano

Quando escreveu o livro, o prestigiado escritor e jornalista Morris West buscou inspiração para o personagem de Kiril no cardeal ucraniano Josyf Slipyj, repreendido pelo governo do presidente Nikita Kruchev. Provavelmente West não sabia, mas lançada em 1963, sua obra, que narra também as eleições de um religioso do Leste Europeu para o pontificado, ganharia caráter de profecia ao prevê, meio que sem querer, a chegada do polonês Karol Wojtyla ao cargo máximo da Santíssima Igreja. É um livro que merece atenção especial daqueles que querem entender melhor os bastidores do fechado mundo do Vaticano.

Mundo este, aliás, bem focado pelas imponentes lentes de Michael Anderson. Com trilha sonora deslumbrante, ganhadora do Oscar escrita por Alex North, As sandálias do pescador é mais uma produção que revela o talento inigualável de Anthony Quinn. Incrível a forma íntegra e convincente com que constrói o personagem. Uma das minhas passagens preferidas do filme é quando, cansado da prisão e austera paredes de sua nova morada, decide andar pelas ruas da capital italiana. É quando, desnudado das pompas do palácio de Cristo, revela o seu lado mais humano, mas condizente com os dogmas do filho de Deus. É quando, de fato, anda com as sandálias do pescador.

Uma estrela maior do que a de Paul McCartney

"Está tudo bem aí na chuva?", brinca Paul, esbanjando simpatia

A chuva não deu trégua um minuto. O trânsito infernal da grande metrópole também não. Com o coração em pedaços e a alma doente, sigo para o show de Paul McCartney no Morumbi, em São Paulo. O mundo desaba sobre minha cabeça e eu não consigo tirá-la da mente. Estou ansioso para ver o velho McCa entrar em cena e entoar os velhos clássicos dos Beatles, os grandes hits de sua carreira solo, mas a expectativa de ver o rosto da minha estrela da manhã e da noite no meio da multidão é maior. Mais de 60 mil pessoas gritando “Paul! Paul!” e no meu peito as batidas sincronizadas do coração respondem: “Ana! Ana!”.

“Será que ela está aqui? Será que ela veio também com a filhinha?”. A pergunta ressoa em meio a solidão das multidões. Um dia a vi com a filhota no show do Nando Reis, em Brasília. Achei a cena fofa. Uma pintura renascentista. Guardo a imagem para sempre no meu coração, no cantinho mais secreto da minha saudade.

Com toleráveis 20 minutos de atraso, eis que McCartney entra em ação. “Boa noite São Paulo, boa noite Brasil!”, grita, esbanjando simpatia. Muda o set list e leva o público à loucura abrindo a última apresentação na América Latina com Magical mistery tour. Sim, de fato, Up and coming é uma turnê mágica. Na sequência, convoca o público a gritar o refrão de Jet, sucesso de 1973 do antológico álbum Band on the run. Pronto, o pacto entre o passado e o presente está, definitivamente, selado, quando o ex-beatle toca um dos primeiros sucessos do fab four, All my loving.

A emoção bate forte. Lágrimas começam a descer pela face, trazendo à tona lembranças da adolescência, do tempo em que a vida era mais simples e colorida como um arco-íris. Do tempo quando os sentimentos não eram negligenciados, quando o amor não era banalizado.

O show segue a todo vapor. Impressiona o profissionalismo da banda, o carisma de Paul McCartney, o beatle mais diplomático de todos, o beatle mais simpático. “Tudo bem aí na chuva?!”, brinca. “Chove chuva”, arrisca, fazendo referência à música de Jorge Bem Jor. O público vai ao delírio. Assim como o meu coração, quando ele canta My love, a apaixonada canção que escreveu para sua gatinha Linda! Meu Deus! Queria saber escrever canções assim também, só para dedicar a minha gatinha, que é fofa e linda como um anjo renascentista…

A noite fria com nuvens vermelhas no céu sem marmelada segue memorável ao som de Got to Get You Into My Life, Back in the U.S.S.R., Day tripper, Two Of Us e Blackbird, essa última, emergida de dentro de um sonho do passado, com Paul na intimidade do seu violão folk.

Mais lágrimas rolam pelo rosto, misturadas com as gostas da chuva. Lágrimas que aumentam quando McCartney homenageia os amigos John Lennon, com a singela Here today e George Harrison, com a assombrosa something. “E se eu dissesse que eu realmente lhe conheço bem, qual seria sua resposta? Se você estivesse aqui”, canta ele em Here today. Essa é a pergunta que gostaria de fazer a ela também.

Na verdade, queria que ela estivesse ali, do meu lado naquele momento. Queria abraçá-la forte debaixo da chuva fina, beijá-la ardentemente ao som de Lei it be, embalada por coloridas velas virtuais, isqueiros e luzes de celulares. Seria como uma oração, uma celebração! Eis então que, sentado diante de um piado psicodélico, Paul mais uma vez embala os fãs. Dessa vez ao som de Hey Jude, a célebre balada que compôs a Julian Lennon, filho do amigo, angustiado na época com a separação dos pais. O refrão que lembra um mantra indiano é cantado por mais de 60 mil vozes em êxtases. O choro vem compulsivamente. Não queria acordar desse sonho jamais, nunca. A realidade é um pesadelo.

Então o show caminha para o final. Mais de 20 anos depois realizei o sonho de ver um ex-beatle de perto. Incrível, mas aos 68 anos, Paul McCartney está no auge da carreira, com seus três últimos discos solo elogiadíssimos e esbanjando energia. Mas nessa noite, uma estrela  maior chamada Ana, minha eterna estrela da manhã e da noite brilhou com mais intensidade em meu peito, no meu céu.

Na última canção da noite, The end, Paul ensina: “E no final, o amor que você recebe, é igual ao amor que você dá”. Nunca esqueça disso baby!

Legião Urbana eterna!

Renato Russo: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã!"

O Fantástico de ontem (21) mostrou cenas inéditas dos bastidores da Legião Urbana. Registros raros que, com certeza, emocionaram fãs da banda como eu. Incrível, mas como o Renato Russo era carismático e uma pessoal sensível. Um sujeito que tinha o dom de agregar as pessoas, apesar do tipo difícil e do temperamento imprevisível. Coisas de gênio atormentado mesmo. Aliás, se não fosse assim, não seria o Renato. “Gente, cuidado com essas pessoas que prometem as coisas em nome de Deus”, debocha, num desses momentos inéditos exibido no programa dominical. “Jesus não cobra ingressos. A Legião cobra”, ironiza.

Lembro que demorei muito a começar a gostar da banda. Na época eu estava ensandecido por causa dos Beatles e nada entrava pelos meus ouvidos ou pela minha cabeça que não fosse as canções dos meninos de Liverpool. Um grande erro da minha parte. Perdi muito tempo com essa bobagem.

 Mas tinha um amigo, na verdade meu melhor amigo, que era louco por rock nacional, louco pela Legião Urbana e aos poucos fui cedendo, até me apaixonar por completo pelo grupo de Brasília. Como grande parte das pessoas, fiquei fascinado com as historinhas bem boladas, contadas pelo Renato em épicos como Eduardo e Mônica e Faroeste caboclo. Mas o disco que fez a minha cabeça foi As quatro estações. Mergulhei de cabeça naquele mundo de angústia, palavras sinceras e melodias fáceis. Aquela coisa de misturar solidão com Jesus, heroína e crise existencial bateu forte na alma.

Um dia, então, recebo a notícia da morte desse meu amigo. Afogou-se no mar da Bahia, numa excursão de faculdade. Até hoje, quando ouço Vento no litoral a voz falha, o coração aperta. A Legião Urbana está entre minhas bandas de rock preferidas e Renato Russo um ídolo para vida toda. “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, cantava. Triste será quando esse “amanhã” não existir mais…

 …Urban Legio Omnia Vicint (Legião Urbana a tudo vence)!

De fora do set list, não do meu coração

Canções de discos elogiados como Chaos and creation in the backyard estão de fora do show de McCartney em SP

Admito. Não estou tão entusiasmado assim com o show do Paul McCartney. Mas como??! Nem sei explicar a razão. Caramba! Esperei tanto tempo para ver o show de um ex-beatle e agora estou aqui, num baixo astral de dramalhão mexicano. Ando ultimamente meio melancólico, passando por uma fase barra pesada mesmo. Os piores dias da minha vida. Talvez lá na hora, no momento em que ele subir no palco e mandar ver no seu manjado baixo tocando as canções dos Beatles a todo vapor a empolgação aumente. Tomara!!!

Neste fim de semana passei em revista algumas canções do velho McCa. Ouvi muita coisa da sua carreira solo. Me emocionei ouvido, por exemplo, a baladona Used to be bad, do medíocre disco Piper of peace, de 1983. Gosto do vocal aveludado desse hit e da letra quase infantil. Pena que essa música não está em seu repertório.

Lembrei bastante da minha adolescência, da época em que não tinha dinheiro algum para comprar vinis ao ouvir o subestimado Flowers in the dirt, álbum de 1989 que traz dois dos grandes ucessos de  McCartney dessa década e que, estranhamente, estão de fora do set list de Up and Coming: My brave face e This one. Mas a minha preferida desse trabalho é o country singelo Put it there, na qual ele presta uma homenagem ao pai. Uma espécie de parente distante de canções como I’ve Just seen a face e I’m looking through you, essa canção também está fora do set list da apresentação em São Paulo.

Ouvidos atentos também para seus trabalhos mais recentes como Flaming pie, um dos meus discos prediletos da sua carreira solo, além de Driving rain (2001) e Chaos and creation in the backyard (2005). Esse último, produzido por Nigel Godrich (o homem por trás de sucessos de bandas como Radiohead, Travis e R.E.M.), um assombroso relicário de canções melancólicas.

Bem, é capaz de Paul McCartney não tocar muitas canções importantes de sua carreira solo que amo, como a blusy Maybe I’m amazing, o primeiro grande hit da fase pós Beatles, faixa do primeiro disco, de 1970. Ou ainda músicas da fase do fab four que atravessam minha alma como um arco-íris como as docemente tristes For no one ou Here, there and Everewhere, ambas do revolucionário Revolver, mas e daí. Assim como minha estrela da manhã e da noite, que não habita mais meu cotidiano, meu set list, essas canções estarão para sempre no meu coração.

Já é um presente ter Sir Paul McCartney mais uma vez no Brasil e é ele quem nos presenteia com um repertório marcante, vibrante, inesquecível, cheio de sucessos que pontuaram sua trajetória. Motivos de sobra para deixar qualquer ser humano feliz. Acho que já estou ficando até mais animado… Lembrarei dela em cada canção tocada por ele, em todos os dias da minha vida…