O cinema selvagem de Oliver Stone

O ator em cena com seus olhos turvos e cheios de cólera…

O cinema de Oliver Stone é marcado pela violência. O cara tem sede de sangue e já deixaria sua marca logo de cara, ao assinar o roteiro do épico, Conan – O bárbaro, filme que lançaria mundialmente o grandalhão Arnold Schwarzenegger em 1982. De lá para cá a groselha escorreu feio em produções que entraram para história como, Nascido em 4 de julho (1989), Assassinos por natureza (1994), Alexandre (2004) e sua obra mais impactante, Platoon (1986), segundo ex-combatentes da guerra do Vietnã, a mais cruel e realista história já contada sobre o conflito.

Pois bem, com todas essas informações formatadas dentro da cabeça fui assisti, outro dia, Selvagens, em cartaz na cidade e, mesmo assim, tomei um susto. Não sei se o filme é o mais sanguinolento do cara, mas com certeza é o mais sujo e mostra esse lado podre da condição humana da forma mais realista possível, mas não do jeito que você e eu pensamos ou estamos acostumados a ver.

Em Laguna Beach (Califórnia), onde Deus descansou no oitavo dia, depois de criar o mundo, e foi multado, como brinca a narradora, os amigos do peito, Ben (Aaron Johnson) e Chon (Taylor Kitsch), são sócios de um lucrativo negócio de drogas fundamentado no contrabando das sementes de marijuana do Afeganistão, as mais quente do mercado, como atesta um especialista.

O primeiro faz o estilo Robin Hood dos tempos modernos onde, no bom estilo Bono Vox, converte o dinheiro sujo que ganha em caridades para os meninos pobres da África e da Ásia. Mais fofinho e cínico impossível. Já o segundo é um ex-combatente da guerra do Iraque e do Afeganistão atormentado pelo terror que ganhou muito dinheiro matando gente por lá, mas perdeu a alma por onde passou. Juntos, eles dividem o amor e o sexo selvagem com a bela e fútil, Ophelia (Blake Lively), e, enquanto se divertem nesse ménage à trois caliente, ainda arrumam tempo para, dentro de estilos diferentes, duelar em defensa do monopólio da maconha na fronteira dos Estados Unidos como o México.

“Chon é metal frio, Ben é madeira quente. Chon trepa para exorcizar os fantasmas da guerra. Com Ben eu não faço sexo, faço amor”, separa a loura gostosa, os dois pesos e medidas que tem na cama.

O inimigo é a bela, kistch e histérica, Elena Sánchez, La Reina – Salma Hayek, em atuação marcante – que, tendo como sombra o capanga “Lado” (Benicio Del Toro), toca o terror por onde passa, deixando medo e destruição.

Fazendo uso do estilo quebra-cabeça de contar história, aonde várias versões e frentes conduz o espectador para um labirinto de surpresas narrativas, Selvagens é uma crônica doentia e virulenta sobre os tortuosos caminhos das drogas, mas narrada do lado mais rico e poderoso dessa faceta. Ou seja, a dos grandes produtores de maconha e cocaína que, desafiando todos os dias, a lei e a ética humana, são capazes de fazer qualquer coisa para que suas negociatas não deixem de girar na casa dos milhões.

“Tive que encarar o negócio depois que meu marido foi assassinato”, justifica Elena, a Madrina.

Um demônio em cena, com seus olhos turvos de cólera, Benicio Del Toro mostra em cena porque é um dos atores mais marcantes e respeitado de sua geração, mas é o roteiro hipnotizante e assustador de Oliver Stone quem rouba a cena. Atirando farpas de ironia e debochando de sua própria gente – o que ele sempre fez muito bem -, assim como fazendo uso do bom e velho espetáculo – o que também sempre fez muito bem -, ele nos apresenta uma obra cheia de contradições, o que se tratando do cineasta, é um grande elogio, mas também repleta de inquietações.

* Este texto foi escrito ao som de: Legalize it (Peter Tosh – 1976)

Minhas musas do cinema e seus vestidos

Monica Vitti de preto, atravessando a noite como uma gazela…

Digam e pensam o que quiserem, mas acho vestidos adereços femininos lindos e, dependendo da modelo, alguns ficam mais deslumbrantes ainda. Mas gosto e acho bonito essa peça de roupa não para eu usar, claro, e sim para ver mulheres lindas vestidas neles. Não sou o Ed Wood, podem ficar tranquilos. Para falar a verdade, às vezes a respiração até fica presa quando uma mulher elegante e charmosa passa por mim com seu figurino sensual. Em alguns casos, elas são mais lascivas e provocantes dentro deste pedaço de pano do que se tivessem completamente nuas. Mas enfim, sei reconhecer quando uma mulher se veste bem, prefiro o estilo clássico, estilo Lilian Tahan de ser, e é comum eu interromper alguém só para dizer, deslumbrado, assim: “Nossa, que vestido lindo!”.

É por essas e outras que gosto de filmes de época porque os figurinos são um encanto, um charme, uma beleza. Mas estou dizendo tudo isso porque outro dia saiu na internet uma daquelas listas do tipo que o meu amigo Ulisses odeia sobre os dez vestidos do cinema que mexeram com a cabeça das mulheres e fiquei com vontade de escrever sobre o assunto. Claro que o modelito básico da Marilyn Monroe no filme, O pecado mora ao lado (1957), de Billy Wilder, estava no topo. Você sabe qual é não? Aquele que o vapor do metrô levanta refrescando seu calor lembra?

Então, realmente é um vestido interessante, que agrega simplicidade e sensualidade, mas, para mim, um dos modelos mais bonito que vi no cinema foi aquele usado pela Gracy Kelly em Ladrão de casaca (1954), do mestre Alfred Hitchcock. É um preto e branco também simples que ela veste quando está no hall do hotel com um chapéu, uau!

Aliás, quando se fala em figurinos no cinema me vem logo à cabeça o nome e a figura da estilista Edith Head (1898 – 1981), a maior autoridade no assunto. Afinal, a dona só levou oito Oscars para casa, além de 35 indicações. Também pudera, feia do jeito que ela era, tinha mesmo que sentar diante de uma prancheta e mandar ver nos modelitos para embelezar as beldades de Hollywood.

Pode conferir, os principais filmes dos anos 50 e 60 trazem a sua assinatura, seu estilo. Quer ver? Dos trabalhos de Alfred Hitchcock quase todos e só porque o mestre do suspense adorava ver suas musas inesquecíveis lindas de morrer. Edith Head desenhou também alguns vestidos para Billy Wilder e gosto em particular do singelo, Sabrina, pelo qual ela levou uma estatueta por sinal.

A rechochudinha Elizabeth Taylor está uma delícia em quase todos os filmes que aparece no auge da carreira e o que me encanta são seus decotes de arrepiar, mostrando seios arfantes e aquela pela alva cheia de sardas.

Outros vestidos que gosto e que estou lembrando aqui que me marcaram claro, são os que a fofa Audrey Hepburn usam no clássico dos clássicos, Bonequinha de luxo (1961). Nunca o pretinho básico caiu tão bem em uma mulher, mas difícil a Audrey Hepburn ficar feia com qualquer coisa que ela veste, não é verdade?

Também gosto dos vestidos suntuosos usados pela bela Deborah Kerr no filme O rei e eu (1956) e essa linda atriz britânica foi protagonista de uma das cenas mais sensuais do cinema com trajes de banho. É aquela de A um passo da eternidade (1953), em que o robusto Burt Lancaster a pega pelos braços e lasca um beijo sôfrego daqueles na areia da praia, ambos banhados pelas ondas do mar. Tesão puro sem tirar uma peça de roupa, sem nenhuma nudez.

E eu tenho assim uma coisa com a Monica Vitti que está uma gostosura em A noite, de Antonioni Michelangelo. Ela atravessa toda a trama como uma gazela num único modelito preto, esbanjando simplicidade e sex appeal. Como se vê, vestir bem significa ser simples.

* Este texto foi escrito ao som de: A night at the Opera (Queen – 1975)

Sinclair Lewis e esse tal de Babbitt

Conheci o escritor via sétima arte, graças ao Burt Lancaster

Não sei para vocês, leitores deste blog, mas para mim a sonoridade do nome Sinclair Lewis (1885 – 1951) soa gostosa em meus ouvidos. Assim como é gostoso de falar o nome também. Mas passei a ler e ser admirador do escritor norte-americano não por esta particularidade, evidentemente, nem por causa de um livro específico de sua monumental e importante obra, mas por conta de um filme com Burt Lancaster de 1960 que interpretou o personagem homônimo do romance que o autor escreveu em 1927. Foi quando eu descobri sua existência.

Para mim, Gantry, Elmer Gantry, o personagem no qual me refiro, talvez seja uma das personas nefastas, contraditórias e, visceralmente, ser humanas, mais bem descritas nas páginas de um livro. Por isso mesmo uma pena eu não ter encontrado uma edição da obra para comprar até hoje, ficando apenas com as boas recordações da adaptação cinematográfica de Richard Brooks, traduzida no Brasil como Entre Deus e o pecado.

Babbitt, que estou lendo no momento, foi o único título de Sinclair Lewis que encontrei fácil nos sebos, mas admito que eu deveria me empenhar mais nesse sentido. De qualquer forma o livro é forte e impactante, como o outro texto que conheço do cara, mas por motivos e estilos diferentes.

Se em Elmer Gantry o discurso do escritor é direto, às vezes até agressivo, contestador e inconformista diante da servil condição do homem com relação à religião, ao mercado da fé e a própria existência de deus, em Babbitt o alvo é a passividade do homem comum diante de uma sociedade medíocre, bovina.

Embora escrito nos anos 20, a atualidade do texto de Sinclair Lewis é de uma brutalidade incômoda, fazendo com que substituímos suas inquietações para os dias de hoje. Até onde eu li a narrativa gira em torno de George F. Babbitt e sua típica família classe média norte-americana. “Na verdade, a casa de Babbitt só tinha um defeito: não era um lar”, ironiza o escritor, logo nas primeiras páginas, após descrever, com riquezas de detalhes, a autêntica casa de um cidadão americano esforçado e burguês.

A vida de aparências tão comum e inerente a qualquer ser humano medíocre e exibido não passa despercebido ao olhar cáustico do autor, que tem uma maneira bem própria de debochar de seus pares. Incrível como, desde os primórdios, passando pelos períodos mais emblemáticos de nossa história, seja ela conhecida ou anônima, que a futilidade e o gosto pelo superficial e o ostensivo está no cerne da natureza humana. Ou seja, mais do que o ser, o que importa é o ter, me fazendo lembrar aquela frase de Oscar Wilder: “Cínico é quem sabe o preço de tudo e o valor de nada”.

“George F. Babbitt, como quase todos os cidadãos prósperos de Zenith, encontrava no seu automóvel, poesia e tragédia, amor e heroísmo, mas o automóvel era a perigosa excursão em terra firme”, narra.

Ganhador do Prêmio Nobel de literatura em 1930, o estilo de Sinclair Lewis lembra o de outro grande nome da literatura norte-americana, por sinal seu contemporâneo, o dândi, Scott F. Gerald. Aliás, Babbit, assim como Gatsby, são autênticos cidadãos norte-americanos, só que lem lados opostos da calçada social.

Bom, ainda estou bem no começo da leitura de Babbitt e acredito que o escritor irá aprofundar e muito no desenho desconcertante sobre o homem mediano da América e sua posição conformista diante da sociedade que o cerca. O homem mediano da América, espelho do mundo, é bom que se diga.

* Este texto foi escrito ao som de: Tim Buckley (1966)

V. Básica (35) – A última sessão de cinema

Jovens sem perspectiva numa cidade desolada no meio do nada…

Antes de escrever qualquer coisa sobre Peter Bogdanovich e o seu cinema é bom que se diga que o cara ama profundamente a sétima arte, sendo um de seus maiores entusiasta. Ele é, por exemplo, um dos grandes admiradores e conhecedores da obra do mestre Alfred Hitchcock. Dito isso, é legal registrar que, A última sessão de cinema (1971), segundo filme de sua trajetória, é uma obra-prima, com seu sutil exercício de metalinguagem. E, de tão singelo que esse recurso é usado aqui, que quase nem notamos tratar de uma das mais belas homenagens ao seu ofício e os heróis que a permeiam.

E os heróis desse mundo mágico estão todos lá. O John Wayne de Rio Vermelho, a bela Liz Taylor de O pai da noiva, James Stewart com sua Winchester 73, mas eles surgem não como astros e sim coadjuvantes dos moradores da pequena Anarene, cidade do Texas onde as poucas diversões são a mesa de bilar de Sam, o leão (Ben Johnson) e o único cinema da região.

É lá que os amigos Sonny (Timothy Bottoms) e Duane (Jeff Bridges) surpreendem as namoradinhas no escurinho das sessões com amassos e beijos mal-intencionados. “Se quer saber sobre monotonia, case logo”, avisa a mãe de uma delas, a bela Jacy, na estreia de Cybill Shepherd nas telonas (A gata e o rato).

Lugar, árido, desolado, o cenário de A última sessão de cinema lembra uma daquelas pinturas solitárias de Edward Hopper, meu pintor predileto. Até por não ter muito que fazer, os personagens dessa história realista e contundente são desnorteados, inseguros e melancólicos, presos pelas armadilhas do passado, pelo presente sem perspectivas tal qual o rouxinol de Keats em busca da imortalidade, seja lá em que contexto ele surja na trama.

“Este lugar tem armas demais”, diz temerosa uma dos moradores de Anarene. “Ficar velho é ridículo”, comenta o amargurado Sam, um dos personagens mais contundentes que já passou por era videoteca.

Com o tempo, o que era inocência e uma poeira de ingenuidade no ar se transforma em maldades da vida adulta cheia de pecados, embrulhada na angústia sobre relações conturbadas, equivocadas e depravações obscuras. O diálogo sobre virgindade envolvendo a ninfomaníaca Jacy é exemplar, assim como a cena sensual dela segurando o taco de bilhar e do rito de passagem que o momento desencadeia para a personagem.

O que me fascina na narrativa de A última sessão de cinema é a habilidade com que Bogdanovich cria elipses visuais para dizer coisas que não estão em cena. Um mecanismo usado com eficiência e certo lirismo na relação entre o jovem Sonny e a esposa negligenciada de um treinador, vivida pela intensa, Cloris Leachman (o papel lhe rendeu un dos dois Oscars arrebatado pela fita).

A forma contundente com que o roteiro baseado na novela de Larry McMurtry expõe as hipocrisias e provincianismo dos moradores de Anarene incomoda e até lembra alguma coisa de Nelson Rodrigues, ingredientes que veem à tona, por exemplo, num simples velório onde verdades hediondas surgem entre lágrimas e suspiros de dor. Para realçar mais ainda esse clima de desolação inebriante o diretor optou por uma fotografia em preto e branco claustrofóbica que dialoga com o tempo fictício da trama, ambientada em meados dos anos 50 e aqui, não há como não lembrar o clássico Hud, com o lindo Paul Newman. Não apenas pela relação estética, mas também temática.

Vencedor de dois Oscars na categoria atores coadjuvantes, entre eles merecido reconhecimento para atuação sóbria de Ben Johnson, o filme é um dos trabalhos mais sólidos da geração que nos anos 70 tomou de assalto Hollywood, à sombra de nomes como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Paul Schrader, Hal Ashby, William Friedkin e tantos outros.

Peter Bognadovich foi um deles e uma pena que ele tenha ficado preso à esta fase glamourosa de sua carreira, não nos presenteando mais com seu talento e olhar observador da alma doente humana.

* Este texto foi escrito ao som de: Sweetheart of the rodeo (The Byrds – 1968)

Show de Robert Plant foi inesquecível!

Arranjos estranhos, mas performance impecável 

E não é que eu consegui ir ao show do Robert Plant na última quinta-feira (25/10). E lá estava eu, chorando horrores ao ouvir o velinho cantar os clássicos do Led Zeppelin, uma das minhas bandas preferidas. Na boa, viu, mas ando meio preocupado comigo porque estou muito chorão ultimamente. Assisti ao filme do Gonzagão outro dia e quase afoguei em minhas próprias lágrimas. Será que isso é normal?

Enfim, fui ao show do Robert Plant, no Ginásio Nilson Nelson, e foi aquela empolgação. Como diria um velho amigo meu de longa data que também estava lá, o Zé Carlos, foi inesquecível. E como foi inesquecível.

Tudo bem, as canções do Led tocadas foram bem menos do que eu esperava, apenas oito, mas valeu apenas por Going to California, que me fez chorar copiosamente.

Enfim, tomei um susto quando entrei no Ginásio e vi que, com pouco menos de uma hora para começar a apresentação, o lugar estava quase vazio. De repente, foi chegando gente, chegando gente e, num piscar de olhos, a arena estava tomada de fãs da banda. Incrível, mas, de onde sai tanta gente assim afinal?

Cinco minutos depois das 22h, lá estava ele, um verdadeiro Lord com seus longos cabelos louros, parecendo um druida de conto de fadas. “Muito obrigado, Brasília”, disse, encantadoramente.

Com um delicioso exagero nos arranjos orientais e predominância de tambores marroquinos, Robert Plant fez a galera pular e dançar com versões diferentes de sucessos como Friends – o primeiro hit da noite da banda – a rústica Bron-Y-Aur-Stomp, num arranjo soturno e a pulsante Black dog: Ah, ah, uh, uh…, brincou com o público, que repetiu o refrão marcante da faixa com deleite, quase uma oração!, um mantra.

O clima já ia alto, intenso, regado a muita maconha e cheiro vagabundo de Budweiser quente no ar quando Plant me surpreendeu com a melancólica balada Song to the Siren, do bardo Tim Buckley (1947 – 1975), só para mostrar que, além de ser, a voz definitiva do Led Zeppelin, é também um intérprete  formidável e da-lhe Ana Maria na cabeça, sorriso incandescente queimando no peito!

Grandes olhos azuis brilhando intensamente em dois imponentes telões, pôster gigante psicodélico refletindo cores surrealistas de Dalí nos olhos dos fãs e o ex-líder do Led Zeppelin encantado com os “sorrisos nos rostos” do público.

Faixa do segundo disco da banda, de 1969, a vadia Ramble on, com seu arranjo malemolente e envolvente, fez com que o público, definitivamente, acordasse do torpor fanático que foi acometido desde o início do show. Ninguém viu, mas chorei que nem um louco e pela primeira vez me soltei completamente, rebolando mais do que o Mick Jagger em cima do palco. E olha que eu não tinha bebido uma gota de álcool ainda. Vai ficar para sempre em minha memória a brincadeira com o jogo de luz na hora em que público gritava o refrão: “Ramble on, and now’s the time, the time is now, to sing my song”.

A epifania fanática dos fãs aconteceria com a orgástica Whole lotta Love, mesmo com um arranjo marroquino estranho que não tirou a empolgação do público. Pausa para o bis e momento introspectivo, momento AMC com a beatnik, Going to California e quase me despenco das nuvens com a mulher dos meus sonhos na cabeça. Maroto, como quem tira um sarro com o público, Robert Plant provoca em português dizendo: “Mais?”.

É a senha para os minutos finais mais intensos da minha vida num show de rock ‘and’ roll, com a, apropriada, claro, Rock and roll. Bom, seu eu morrer amanhã vou morrer feliz porque vi e ouvi Robert Plant, assim, de perto, à queima roupa. Mesmo sem a AMC do meu lado.

* Este texto foi escrito ao som de: Led Zeppelin IV (1971)

Gonzaga – De pai pra filho

Chambinho do Acordeon: “Ainda não estou acreditando…”.

O diretor Breno Silveira, por incrível que pareça, se superou ao realizar Gonzaga – De pai pra filho, que estreia hoje em circuito nacional. No final da sessão, realizada só para convidados, na última sexta-feira (19), deu vontade, sim, de sair cantando e dançando embalado pelas canções do Gonzagão. Isso porque a cinebiografia dos Gonzaga é melhor do que a emocionante história da dupla sertaneja, Zezé Di Camargo e Luciano, a saga, Dois filhos de Francisco. É verdade, me surpreendi tanto que chorei horrores ao ver o drama.

Na trama, bem amarrada e escrita pela parceira preferida Patrícia Andrade, Silveira mescla ficção com pequenos lampejos documentais para narrar a trajetória de dois grandes nomes da nossa música a partir da relação conturbada entre eles, ou seja, o eterno embate shakespeariano entre pai e filho.

Se você, assim como eu, leu o livro da Regina Echeverria, vai perceber muita coisa da obra ali, mas o legal do roteiro é que ele vai além da biografia escrita pela jornalista, trazendo outros elementos interessantes sobre a vida dos dois artistas.

O que me incomodou, mas acho que isso não seja problema, é que, como se trata de uma cinebiografia, o filme traz sim, elementos saturados do gênero de outras obras que conhecemos, mas a bela produção da fita, em todos os sentidos – fotografia, figurino, direção de arte e atuação – nos faz esquecer este detalhe rapidinho.

Outra questão é a “demonização” velada do cantor Gonzaguinha, vivido de forma soberba pelo ótimo ator gaúcho, Júlio Andrade (O homem que copiava). Para quem não leu o livro da Regina Echeverria ou sabe pouco sobre a relação complicada entre eles, pensa até que o cara era o grande chato da história, mas não era bem assim.

Filho de Odaleia Guedes (Nanda Costa), cantora da noite de um Rio de Janeiro que não existe mais, Gonzaguinha viveu o drama de não ter o pai por perto quando ele mais precisava. Ocupado com o sucesso, com a agitação da carreira de artista amado pelo povo, Gonzagão – vivido em sua fase áurea por Chambinho do Acordeon -, foi um pai ausente, mas nunca negligente. “Nunca te deixei faltar nada”, gostava de dizer o pai, que saiu de casa cedo para ganhar o mundo. “Sempre me virei sozinho. Eu era tão pobre que o exército para mim era regalia”, recordava.

Fora isso, tinha o fantasma da paternidade. Afinal, Gonzaguinha era ou não era filho de Gonzagão? Uma questão que o filme deixa em aberto para o público solucionar entre lágrimas e emoção, um ingrediente, diga-se de passagem, que o diretor Breno Silveira dosa com habilidade, sem parecer piegas ou banal.

Gonzaga é um filme brasileiro universal que tem a família como tema principal, a relação que se estabelece entre pai e filho”, disse um empolgado Chambinho do Acordeon, num bate-papo rápido, na pré-estreia do filme realizada ontem (25), no Píer 21. “Ainda não estou acreditando que faço o papel do meu ídolo que é o Gonzagão, às vezes fico me beliscando”, brincou.

Mas o grande personagem do filme, que traz boas atuações, como a do sempre competente João Miguel e Sílvia Buarque, tal qual em Dois filhos de Francisco, claro, é a música, tanto os baiões, forrós, xaxados e xotes contagiantes de Luiz Gonzaga, assim como as canções românticas e políticas de Gonzaguinha.

Bonito, por exemplo, a passagem da volta de Gonzagão ao sertão, depois de anos no Sul maravilha e de como esse reencontro com sua terra, sua família e seu povo o fez regressar ao Rio de Janeiro com o gosto, o cheiro, a saudade e o sofrimento do Nordeste dentro do coração, cravado na alma. Dessa experiência, telúrica nasceriam hinos de toda uma nação como Asa branca, Assum preto, Sábia e tantos outros.

“Gosto de tocar para quem não pode pagar, para o povo”, dizia ele, um dos primeiros artistas pop brasileiro.

* Este texto foi escrito ao som de: Danado de bom(Luiz Gonzaga – 1984)

Robert Plant – A voz do Led Zeppelin

Depois do Ringo Starr, que venha Robert Plant e as canções do Led…

Para quem nunca achou que fosse ver um beatle de perto, em Brasília, assim, à queima roupa, como eu vi o Ringo Starr, no Centro de Convenções, no ano passado, ter a chance de conferir o show do Robert Plant na cidade, ex-vocalista do Led Zeppelin, nem parece tão espetacular assim. Bobagem. O cara estará hoje no coração do Brasil, bem no meio do Planalto Central e, se alguém estiver lendo esse post, pelo amor de god ou qualquer outra coisa, faço o pedido cretino, assim, de modo deliberadamente: por favor, me belisque!

Bom, antes de tudo, queria registrar que, como a maioria das pessoas, eu conheci a banda inglesa, um dos maiores fenômeno dos anos 70, por causa da balada progressiva, Stairway to heaven. De tão clássica e previsível essa história, chega até serum clichê vagabundo. E não só isso. Tudo por causa da novela Top model, aquela que tinha a gata da Malu Mader e o Nuno Leal Maia, este último, encarnando um solteirão fã dos Beatles e com uma penca de meninos para cuidar.

Daí, meu chapa, comprei o quarto disco da banda, me apaixonei pela figura mítica do guitarrista Jimmy Page e vi que tinha outras novidades sonoras além dos meninos de Liverpool, dos bad boys dos Stones e da Legião Urbana.

Mas o Led tem uma voz e essa voz se chama Robert Plant, um dos deuses do rock ao lado de Freddie Mercury, Roger Daltrey, Axl Rose e, claro, Elvis Presley. E difícil de imaginar a banda sem a voz sensual, lasciva, mas também agressiva e gritante do cara, um dos rostos mais lindos enquanto jovem. Tudo bem, o tempo, os excessos com as drogas e as bebidas nos anos de farra arranharam um pouco o timbre de sua ferramenta de trabalho, mas nada que comprometa nossa relação de amor devotada pelo vocalista.

Se eu conseguir ir ao show e ouvir Thank you, Tangerine, Going to California, When the levee breaks e Stairway to heaven ou pelo menos uma dessas canções, já estou no lucro, me sentindo no valhala. Cara, o vocal furioso de Plant no auge da canção When the levee breaks é um escândalo de sensacional, formidável.

Nascido Robert Anthony Plant, em agosto de 1948, em Bromwich, Staffordshire, na Inglaterra, ele começou cedo no mundo da música. Exatamente aos 16 anos, em pubs, clubes, biroscas e, daí para frente, é só história. E que história. Junto com Jimmy Page, o talentoso John Paul Jones e John Bonham, o demônio da batera, faria parte de uma das bandas mais influentes do rock. Para mim, a mais influente dos anos 70. Ou melhor, de todos os tempos.

Voz efeminada, às vezes de uma sensualidade incômoda, como mostra a orgástica, Whole lotta love, um dos hits do segundo álbum do Led Zeppelin, Robert Plant encarnou com devoção o trinômio: sexo, droga e rock ‘and’ roll. Com o fim da mítica banda em 1980, após a morte do baterista Bonham, Plant seguiu carreira solo, mas, se você me perguntar uma música desta sua segunda fase não saberei dizer nem uma sequer.

Eleito pela revista Rolling Stone a 15º voz da história do rock ‘n’ roll, o artista é uma lenda, daí um dos vários motivos para não deixar de vê-lo amanhã na cidade junto com sua nova banda, Sensational Space Shifters.

Não sei se vou conseguir tal feito, mas só saber que ele estará na cidade e que pessoas próximas a mim irão ao show, já me sinto como aquele personagem do Goëthe e sua pedra de Bolonha.

* Este texto foi escrito ao som de: Led Zeppelin II (1969)

Sam Peckinpah – O esteta da violência

Saiam do caminho porque a quadrilha selvagem chegou…

De tão bobocas que são os títulos em português dos filmes norte-americanos por aqui, que a gente acaba fazendo bobagem, cometendo erros, assim, hediondos, diria que até cretinos. Por exemplo, a primeira vez que vi o cartaz de, Meu ódio será sua herança (1969), pensei: “Um clássico de John Wayne!”.

Hehe, não é e, apesar de ser um faroeste, e dos bons, ele nem aparece. Para falar a verdade, em 1969 o grande astro de Hollywood estava caolho e já sentindo os efeitos de um câncer de pulmão, herança de seus eternos dias de fumante. Mesmo assim, ainda muito homem naquele mesmo ano para ganhar o Oscar de melhor atuação por Bravura indômita. Mas afinal porque, diabos estou falando de John Wayne mesmo?

Ah, sim, lembrei, porque queria falar de Sam Peckinpah, o grande esteta da violência do cinema norte-americano. E só porque vi um filme dele outro dia, justamente Meu ódio será sua herança, tido pela crítica especializada, seu trabalho mais importante, mais sanguinolento. E só vendo o filme entendi o porquê do título pomposo e categórico para falar de seu cinema. Coisa que não tinha notado em Pat Garrett & Billy the Kid, sua fita de 1973 em que Bob Dylan tira onda de ator. Mas só tira mesmo.

E não só isso. Peckinpah, que começou a despontar no cinema assinando roteiro para, veja só, Marlon Brando, em A face oculta (1960), foi um dos poucos cineastas que fazia um faroeste de verdade, com toda a crueza, selvageria que o gênero permite.

Quer ver? Na trama de Meu ódio será tua herança, Robert Ryan é Deke Thornton, um homem rancoroso que sonha em acertar as contas com ex-colega de farra Pike Bishop (William Holden), quem um dia lhe deixou na mão. “Por US$ 10 mil dólares eu esqueço até a família”, diz o ex-amigo, já denunciando seu caráter arranhado.

E por ser assim mesmo, torto na vida, que ele, Pike, não sabe fazer outra coisa a não ser passar a perna nos outros e para tanto, conta com uma turma do barulho que é capaz de tudo por uma boa grana, mulheres e dias de farras. Eles são a quadrilha selvagem do título original que anda  em decadência e tentam ajeitar a vida com uma última tacada.

Assim, enquanto Deke e Pike não resolvem suas diferenças pelas curvas da estrada, muita água irá passar por debaixo da ponte, como um assalto a banco fracassado, a intercepção antológica de um trem carregado de armas, cuja munição pretende vender para um coronel corrupto e violento, a explosão de uma ponte deixando o inimigo isolado a poucos passos atrás de si.

Recheado de cenas antológicas, como a sequência inicial com os bandidos se passando por soldados no centro da cidade e a da emboscada do trem, Meu ódio será sua herança é, por esses e outros motivos, o que se pode dizer de um faroeste por excelência.

E por um motivo bem simples, ao contrário da ingenuidade moral dos filmes de John Ford – o maior de todos os mestres do gênero -, sua trama aqui não adula mocinhos, muito menos ridiculariza bandidos dentro daquela cumbuca maniqueísta que estamos acustumado, apostando fundo nas contradições e verdades visuais e temáticas dessa escola.

Entortando a lógica que vende filmes em Hollywood, os heróis são covardes e quando não, desnorteado, mas os bandidos da trama. E mais, as autoridades se mostram mais corrupta e suja que o chão de um chiqueiro e a verdade nua e crua nunca aparece, a não ser, materializado num festival de tiros, sangue e muita emoção.

* Este texto foi escrito ao som de: The basement tapes (Bob Dylan/The Band – 1975)

Tragédias humanizadas

Das cinzas do Gran Circo nascia o profeta Gentileza…

O espetáculo mais triste da Terra, como o título indica, é uma história sobre tragédias. E que tragédias. Tragédias que brotaram do riso, da alegria, debaixo de uma lona de circo. Escrito pelo jornalista Mauro Ventura, filho do respeitado escritor e também jornalista, Zuenir Ventura, o livro é uma grande reportagem sobre um dos maiores acidentes circense já ocorrido, o incêndio do Gran Circo Norte-Americano, que vitimou mais de 500 pessoas em Niterói, em 1961.

Terminei de ler o livro outro dia e estou chocado, impressionado, consternado com esse episódio que nunca foi contado por ninguém. Pelo menos com a riqueza de detalhes que sua narrativa envolvente mostra. Uma história triste revisitada 50 anos depois pelo jornalista Mauro Ventura que entrevistou 150 pessoas, vasculhou arquivos e reportagens da época, trazendo à tona personagens anônimos e famosos marcados e envolvidos, direta e indiretamente, com o acidente.

Acontece que José Datrino ou o profeta Gentileza nunca teve parentes perdidos na tragédia de Niterói, apenas fora mais um dos inúmeros personagens da cidade que tiveram sua vida transformada, radicalmente, com o incêndio.

Ao longo de suas quase 300 páginas, O espetáculo mais triste da Terra impressiona porque humaniza tragédias pessoais de gente que perdeu tudo o que tinha, ou seja, irmãos, pais, amigos, o corpo dilacerado, chamuscado pelo fogo, o gosto pela vida. Pessoas como a mineira Lenir Ferreira de Queiroz que viu morrer o marido e os dois filhos, um deles chamado Regina, o mesmo nome da girafa Regina, uma das grandes atrações do Gran Circo Norte-Americano.

Até hoje ninguém sabe ao certo o número exato de pessoas que morreram no trágico episódio de Niterói. Sabe-se que um cemitério foi construído às pressas para enterrar os mortos e os hospitais da região, pilhado de gente sofrendo com queimaduras e ferimentos causados pela grande confusão, mal davam contam da demanda. O número de voluntários e pessoas que se dispuseram salvar, doar seu tempo para ajudar às vítimas é grande.

Ainda continuam um mistério as causas do incêndio, se acidental ou criminoso. Na época três pessoas foram presas, uma delas Dequinha, um bandido barato, pé de chinelo que adorava confessar delitos que não havia cometido. Mas a verdade é que a própria comunidade de Niterói na acreditava na sua culpa.

50 anos depois, o incêndio do Gran-Circo Norte-Americano ainda é uma marca indelével nos corpos e memórias de seus sobreviventes. Na memória do país.

* Este texto foi escrito ao som de: Edith Piaf: 30 anniversaire (1994)

Avenida Brasil, Drummond e Quintana…

Tufão e Carminha viraram mania nacional…

Parafraseando o poeta Carlos Drummond de Andrade, na época do sucesso da novela O Astro, de 1977. “Agora que Avenida Brasil acabou vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando”. Sim, porque não aguento mais, não quero nem ouvir falar da novela de João Emanoel Carneiro. Outro dia mesmo, fui cortar o cabelo no salão e as pessoas ainda estavam comentando o último capítulo da novela, que rendeu à Globo, nada mais, nada menos do que R$ 700 mil por 30 segundos de anúncio no intervalo do folhetim comandado por Carminha é o bunda mole do Tufão. Pode? E eu aqui no maior aperto para pagar as contas do dia a dia sem drama, nem choro.

Chega né, gente, vamos trocar a fita, muda de canal e falar de coisas novas. Salve Jorge? Mensalão? Natal? A final do brasileirão? Que seja e por falar do brasileirão, espero que agora meu time, o Galo mineiro, consiga o título inédito. Vamos ver…

De qualquer forma, o sucesso da novela foi realmente inusitado, algo sui generis, com direito a página amarela na revista Veja, programa especial no Globo repórter e, até eu, que andava desligado das novelas, dei uma espiada em alguns capítulos, quando ninguém estava olhando.

E Avenida Brasil foi um estrondoso sucesso porque trouxe algo de novo, de diferente, como fez, por exemplo, a inesquecível Roque Santeiro (1985) com uma proposta narrativa irreverente, ousada na abordagem de temas atuais, até então, e pelo elenco fabulosoque soube conduzir com maestria o enredo mágico e hipnotizante do mestre Dias Gomes.

Depois veio Gilberto Braga e a vitrine do Brasil, nua e crua, Vale tudo, que paralisou o país em torno do crime da Odete Roitman. E eu só vidrado no amor de Solange (Lídia Brondi) e Afonso (Cássio Gabus Mendes). E acredite, já naquela época, sem saber direito o que queria da vida, me identificava com aquele clima romântico da redação da revista Tomorrow.

Claro que citei exemplos do meu tempo de garoto. Avenida Brasil, que começou desacreditada, meio sem rumo, com um começo chocho, cheio de clichês e ganchos previsíveis, parecia ser mais do mesmo, mas deu no que deu. Além do estilo cinematográfico adotado pelo diretor Ricardo Waddington (diretor entre outras coisas que gosto como Sex Appel e Vale tudo), teve como ponto a favor o texto de Emanuel Carneiro e equipe.

O que chamou atenção de todo mundo, pelo menos para mim, foi a forma direta, sincera e corajosa do autor em abordar temas tão inerentes à condição humana como rancor, ódio e vingança. Elementos estes concentrados a ferro e a fogo nas personagens Carminha e Nina (Adriana Esteves e Débora Falabella).

Não sou uma pessoa vingativa, mas sou uma pessoa rancorosa ao extremo e, como aquele elefante que não se esqueceu do rosto do caçador que tentou lhe tirar a vida sem sucesso, o vingando anos depois quando seu algoz voltou ao local, não esqueço fácil quem me faz mal, que me machuca.

Se isso é bom ou ruim, não sei dizer e também não me interessa essa dúvida maniqueísta. O que importa é que sou assim e ponto final. O que acontece é que as pessoas se enganam, deixando se levar pela soberba e impunidade, mas, assim como a Carminha, Nina, Max, Nilo, Lucinda e tantos outros personagens do folhetim, elas deixam rastros. E, ao contrário do que pensam, têm sim, telhado de vidro e que atire a primeira pedra quem não é pecador ou se acha incapaz de cometer erros.

Citando outro poeta, o gaúcho Mário Quintana: “Todos aqueles que atravancam o meu caminho, passarão. Eu… passarinho”.

* Este texto foi escrito ao som de: Coleção Talento – Adoniran Barbosa (2004)