Chaplin & Gandhi: gigantes do século 21

Chaplin e Gandhi, em Londres, nos anos 30, provando que pequenos homens podem dar grandes passos

Grandes passos da humanidade, para o bem ou para o mal, foram dados por pequenos grandes homens. Sim, eram figuras de estatura baixa, mas gigantes no talento, na persistência, completamente obstinados na defesa de seus ideais, sejam esses ideais de carga positiva ou obscuros. Quer ver?!

Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler, por exemplo, em diferentes períodos da História, fustigados por megalomania doentia, só queriam conquistar o mundo, nada mais do que isso. Já o pintor espanhol Pablo Picasso, gênio dos traços abstratos, desejava nada revolucionar as artes plásticas. E quer saber? Ele conseguiu. Mas o inglês Charles Chaplin e o indiano Mahatma Gandhi, dentro de suas díspares funções e áreas de atuações, tinham uma ambição maior e mais, digamos assim, social: a defesa do humanismo.

A trajetória desses dois colossos do século 21, que chegaram a se encontrar em 1931, em Londres, foi contada, no cinema pelo diretor inglês Richard Attenborough, em duas grandes produções que podem ser vistas tanto em DVD, quanto nos canais por assinatura. Bem, vi um em DVD e o outro na TV a cabo recentemente. O em DVD foi Chaplin (1992), que eu já conhecia, mas tinha me esquecido do quanto era tão bom, com um Robert Downey Jr., impagável, na pele do mestre da pantomima.

Gandhi (1982), até então inédito para mim, vi no Canal TCM e fiquei impressionado com o espetáculo visual dessa obra-prima das telonas, mas, sobretudo, pela história de obstinação de um homem que estava fadado a libertar o seu povo do julgo britânico. Não duvide, mas Gandhi foi o Moisés do seu tempo e do seu povo. Simples assim. Tanto é que quando morreu, Albert Einstein, que andava ocupadíssimo com suas equações, parou para refletir sobre o pequeno homem da Índia e disse: “As gerações futuras não irão acreditar que algum dia existiu um homem como Gandhi”, resumiu.

Bem, vencedor dos Oscar de Melhor Filme, Diretor e Roteiro por Gandhi, o estilo de Richard Attenborough é meio acadêmico e burocrático, mas tais atributos não representam pontos negativos em sua filmografia. Há quem critique, por exemplo, a melancolia da cinebiografia do artista que inventou o riso no cinema, Charles Chaplin, mas isso depende do ponto de vista e do estado de espírito de quem está assistindo.

De qualquer forma, a alma de Chaplin, o filme, está em Roberto Downey Jr., injustiçado pela Academia de Cinema de Hollywood pelo não reconhecimento de sua brilhante atuação. E, ao falar sobre um dos maiores ícones que a indústria cinematográfica já teve Attenborough, por tabela, prestou uma homenagem à sua arte, ou seja, o cinema. “Se quer me conhecer, veja os meus filmes”, disse certa vez o pequeno criador de Carlitos. “Não sou comunista, sou humanista”, explicou em outra ocasião, rebatendo falsas acusações.

E se Robert Downey Jr. foi desprezado pelo seu desempenho marcante, o mesmo não aconteceria com Ben Kingsley, que está igualmente soberbo como Gandhi. Inglês, de origem indiana, Kingsley entranhou tanto na personagem que quase não nos damos conta de sua brilhante atuação. Ou seja, até achamos que quem está bem ali, na nossa frente, em película, é o próprio Gandhi.

Pois bem, depois de ver o filme, fiquei com vontade de saber mais sobre quem foi esse homem que, por meio de métodos pacifistas, libertou o seu povo da escravidão econômica e social aos quais estava atrelado há décadas. E lamentei que sua luta, no final, tenha sido em vão de alguma maneira, pelo menos em parte, com as picuinhas e intrigas entre as duas maiores religiões que formam a grande Índia, os muçulmanos e os hindus. Desentendimentos que culminaria na criação do vizinho Paquistão.

“Todo povo merece o governo que tem”, disse o homem que um dia chegou a ser chamado de “A grande alma”.

* Este texto foi escrito ao som de: In the wee small hours (Frank Sinatra – 1955)