Distorções oníricas

Fui ver ontem (09) A origem, o mais novo filme do diretor inglês Christopher Nolan e confesso que sair da sala de cinema dando patadas rutilantes, urrando como um asno de contos de fadas. E por uma razão muito simples: não entendi patavina da história. Ou melhor, fiquei com preguiça de entender. Forçar a moringa entende? A narrativa é bem rebuscada, cheia de maneirismos visuais e com um enredo repleto de reviravoltas que confunde o espectador que não estiver a fim de mergulhar na trama. É daqueles tipos de produções para nerds, bitolados que ficam cavando significados obscuros entre uma cena e outra. Não tenho paciência, nem cérebro para tanto. Minhas motivações, meus pesadelos são de outras origens.

Em A origem Christopher Nolan entorta Paris e a imaginação do espectador

Especialista em desvendar os segredos da mente, como demonstrou com maestria e elegância em Amnésia, de 2000, e Insônia, realizado dois anos depois, Nolan – talvez responsável pela melhor versão para o cinema do Cavaleiro das Trevas, escreveu uma história labiríntica do tamanho do seu ego e vaidade. Uma pena já que ele brindou seus admiradores com bons momentos. E ele é um jovem talento que sabe o que faz.

Com mais de duas horas de duração, a premissa de A origem é interessante, com suas metáforas cinematográficas escondidas na brincadeira entre a realidade e a ficção. Diga-se de passagem, uma curiosa homenagem do diretor ao ofício, às cavernas sétima arte, ao exércício da imaginação. Mas prefiro os delírios oníricos projetados pelos Davids Croneberg e Lynch.

Personagem obscuro, Cobb (Leonardo DiCaprio) comanda um grupo de especialistas em invadir sonhos alheios. O objetivo dessa aventura abstrata consiste em vilipendiar o inconsciente da vítima, roubando segredos importantes em benefício do inimigo. Um deles interessa ao poderoso empresário Saito, vivido por Ken Watanabe, que contrata os serviços de Cobb em troca de uma reparação moral. Daí o que vê é uma sucessão sufocante de imagens delirantes que impressionam pela força visual e capacidade de anular atuações de astros como o irlandês Cillian Murphy e o inglês Michael Caine.

Assim, num passe virtual, o espectador é convidado a ver Paris ser retorcida em cima de sua própria superfície – numa cena que causa vertigem – ou exercitar a orbitar ocular com os vôos dos personagens que o tempo todo desafiam a gravidade. Tudo de uma chatice ululante. É irritante, por exemplo, a cena em que um furgão insiste em não afundar nas águas tenebrosas do inconsciente de um dos personagens. Mas sabe o que é mais entediante? O paralelo gratuito que muitos têm feito com outra bobagem tridimensional Matrix, uma das maiores farsas do cinema atual que arrebatou milhões de nerds desocupados recentemente. Tal qual A origem, um projeto para os de almas desocupadas!

Há quem diga que o novo filme do esperto Nolan é a grande revolução do cinema, a melhor coisa realizada nos últimos 10 anos. Pode até ser, mas não na minha dimensão, não no meu sonho.

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