Tudo por justiça (2013)

No filme, Christian Bale é um operário que quer vingar a morte do irmão com as próprias mãos

No filme, Christian Bale é um operário que quer vingar a morte do irmão com as próprias mãos

Christian Bale é um ator completo. Vai do Batman à figura desajustada de um lutador de boxe drogado com a mesma desenvoltura de um camaleão das telas. Ou seja, talha bem os personagens que faz tanto na seara pop,quanto no mais denso dos dramas e ainda tem tempo para pousar de galã. Nosuspense Tudo por justiça, em cartaz na cidade, ele é Russell Baze, um operário que se mata de trabalhar numa siderúrgica enquanto vê o pai doente se definhar em cima de uma cama. Não bastasse, tem de bancar a babá do irmão caçula Rodney (Casey Affleck), um soldado na guerra do Iraque que só arruma confusão quando está de folga.

Um dia, quando acerta mais uma das dívidas do irmão com um empresário da cidade, bêbado, se envolve num grave acidente onde acaba matando um menino. Preso, alguns anos na cadeia até estar de volta à praça. O momento em que ele, um cara do bem, de coração de ouro que só teve um escorregão na vida, deixa a prisão, suspirando cheio de esperança e sonhos, é de emocionar.

Mas as coisas não serão nada fáceis. Para começar, a mulher o trocou pelo xerife da cidade (Forest Whitaker) e o pai morreu enquanto ele pagava suas dívidas com a lei. O problema maior é o irmão Rodney, por quem ele nutre um amor desmedido e surge como uma figura protetora e paternalista. Sobretudo agora que ele deixou o exército e só quer saber de andar com uma turma da pesada metida com jogatina, apostas altas, drogas e torneios de brigas.

“Qual é o problema em ganhar a vida honestamente trabalhando numa usina?”, pergunta Tudo por justiçarepetindo a frase do irmão, que o quer colocar nos trilhos.

Mas ele não quer saber de trabalho honesto e, para pagar as dívidas, se deixa quase matar nos ringues até finalmente esbarrar no escrupuloso Harlan DeGroat (Woody Harrelson, mais uma vez de tirar o fôlego), que o machuca feio. Para vingar o irmão querido, Russell está disposto a tudo, inclusive a fazer justiça com as próprias mãos.

Diretor do sensível Coração louco, que rendeu um Oscar de Melhor Ator a Jeff Brigdes, Scott Cooper aposta aqui numa trama violenta e cheia de contradições morais. O elenco formidável que conseguiu agrupar, com gente do naipe de Willie Dafoe e Sam Shepard, além dos citados acima, é um atrativo a mais, sim, sobretudo pela unidade que eles dão à história envolvente com desfecho previsível, mas exemplar. Mais uma vez o tema do soldado americano que lutou pelo seu país e agora é negligenciado pela sociedade vem à tona, mas aqui o diretor mostra que quando o estado dá as costas, a justiça divina falha e a impunidade impera é olho por olho e dente por dente.

Não sei por que alguns críticos bobocas andaram reclamando por aí que o filme era um amontoado de clichês e não sei mais o quê. É só mais uma daquelas produções mais do mesmo, mas com uma roupagem chique e bem feita.

* Este texto foi escrito ao som de: Into the wild (Eddie Vedder – 2007)

Into the wild