Política = Corrupção e conivência

Ano de política é ano de circo, de palhaçada, de piada sem graça.

Política virou sinônimo de corrupção, não tem jeito, é fato. Com exceção de meia dúzia de gatos pingados, o resto não tem salvação, é como naquele trecho do clássico livro de Ariano Suassuna, O auto da Compadecida, quando todos estão no purgatório sem saber se ficam ali mesmo ou se vão para o inferno. Só que no caso de grande parte desses pilantras, é sem julgamento mesmo, ou seja, inferno neles.

Daí que, quando chegam as eleições, a imagem que nos vem à cabeça, na hora da propaganda eleitoral, é como aquela de uma charge que vi outro dia no jornal. O pai de família liga a televisão, na hora do horário eleitoral e, do outro da telinha alguém já começa assim: “Respeitável público”.

E é isso mesmo, ano de eleição é ano de circo, de palhaçada, de piada sem graça.

Mas pior do que político corrupto e essa patuscada envolvendo o ano eleitoral é uma sociedade submissa, conivente e acomodada. E é só chegar as eleições para gente ver tudo isso de forma clara e nojenta. Enfim, um bando de idiotas sem ter o que fazer, bajulando aquele camarada que já sabemos que vai roubar quando estiverem no poder. Até porque, alguns, na maior cara de pau, já entram na política com esse intuito mesmo, fazer um pé de meia a custa do dinheiro público e da confiança dos eleitores. Que explodam as reivindicações, necessidades e urgências daqueles que vão dar o voto.

Agora se a sociedade é submissa, conivente e acomodada, o sistema é falho, sim, porque não tem o menor cabimento a quantidade de gente despreparada tentando assumir um cargo político por aí. Alguns, meu caros, não sabem nem falar, são semianalfabetos e toscos mesmo, ridículos até e o pior de tudo é que muitos conseguem chegar lá e a culpa é de quem? Sem falar dos oportunistas que aproveitam da ingenuidade do povo para conseguir se eleger.

Em minha opinião a justiça eleitoral deveria ser mais criteriosa e competente, impedindo essas brechas e criando critérios e mecanismo eficientes para as pessoas se candidatarem. Além da ficha limpa, o sujeito deveria apresentar também um grau de instrução no mínimo decente, ser mais preparado para a vida pública, para administrar o dinheiro público, assumir um cargo de poder. Do contrário, vamos deparar sempre com cada figura medonha que vou te contar. É porque ainda tem essa, o caras não sabem nem se promoverem.

Por exemplo, você voltaria ou teria coragem de votar em alguém como o Vagner do raio-x ou Creusa do sanduíche? Só passando fome, certo? Ou ainda no Luiz da Construcasa ou no Nassin da Praia? Detalhe, o lugar onde o Nassin quer ser eleger não tem praia, lago, muito um rio sem peixe. Temos ainda o, Pina da Garagem e o Divino Salvador, esse último, além de uma vaga na câmara dos vereadores, parece também querer tomar o lugar de Cristo na cruz.

E o que os candidatos fazem para chamar a atenção dos eleitores é pior do que atração de circo. Vale de tudo, desde uma singela e hipócrita piscadinha, até perna nas costas e evocações a personagens caricatos como Tiririca, que foi esperto e agora ganha uma nota preta sem tirar onda de palhaço. “Sou o Tiririca da sua cidade, se eu não ganhar o mundo vai acabar e pior vai ficar”, diz um cretino, sem peroba na cara.

E os slogans?!  “Vote certinho, vote no neguinho” ou ainda “E tem melhor?”.

É por essas e outras que rasguei meu título de eleitor. Voto meu político nenhum pega porque, como naquela música do The Who, “não quero ser enganado de novo”.

* Este texto foi escrito ao som de: Who’s next (The Who – 1971)

O Tiririca é um cara do povo

"Tiririca é um cara do povo, não rouba ninguém".

Quase não acreditei quando vi a matéria no Fantástico, no último domingo (05). Mas depois de alguns minutos de pasmaceira, cai na real e percebi que o que eu vira era mesmo verdade. Caramba, quase um mês depois do fim das eleições e o dominical da Globo vem agora, mais uma vez, bater na tecla com uma reportagem especial, quase um bloco inteiro, sobre a legitimidade da candidatura de deputado federal do palhaço Tiririca, eleito com mais de 1 milhão de votos?! Ou seja, um exemplo claro, crasso, diria até que hediondo, de falta de assunto.

Ok, ok, vocês venceram, não é tão falta de assunto assim. Mas a forma como o imbróglio, a questão foi abordada é de uma cretinice ultrajante. Afinal, qual é a finalidade dessa grosseria, indelicadeza contra um sujeito aparentemente inofensivo?

Ora bolas, tem por aí muito deputado, governador, enfim, políticos corruptos com ligações ilícitas envolvendo empresários poderosos, gente da mais alta esfera do poder e o estardalhaço nem é tão grande assim?! Pelo menos tanto quanto deveria. E agora querem crucificar o pobre do Tiririca só porque ele não sabe escrever caroço com “Ç” ou dois “SS”.

Santo Cristo, eu mesmo que faço da escrita, da palavra, da literatura, da Língua Portuguesa, minha renda de trabalho não sei. Outro dia, num e-mail para uma colega, escrevi “descanso” com “Ç”. Dá pra acreditar num troço desses. Pois eu, com um diploma de jornalismo enfiado na gaveta escrevi “descanso” com “Ç” e logo num e-mail para ela, que é uma catedral de soberba, uma esnobe e sádica de plantão.

"Não acredito que o Tiririca seja mais palhaço, bufão do que Arruda e seu comparsa PO, a dupla infernal de Brasília que assaltou os cofres e a dignidade dos brasilienses".

Eu não acredito que o Tiririca seja mais palhaço, histriônico, bufão do que, por exemplo, o governador José Roberto Arruda e seu comparsa Paulo Octávio, a dupla infernal de Brasília que assaltou os cofres e a dignidade da população brasiliense. Nem mesmo mais espalhafatoso, ridículo e esdrúxulo do que o tio Joaquim Roriz, uma caricatura, anedota de si mesmo, carregando para cima e para baixo aquele anãzinho de Velásquez que a mulher dele, D. Weslian. E olha que nem consegui adjetivar com propriedade as canalhices do Sr. Paulo Maluf, o mestre dos malas.

Tiririca não rouba ninguém, é um cara do povo, como bem disse o presidente Lula. Ele só dá alegria às pessoas, quer você goste dele ou não. Veja bem, não morro de amores pelo artista, acho suas piadas chulas, de um mal gosto ululante, sua aparência é grotesca, mas o que a mídia e a turma suja e podre do judiciário – essa mesma patuléia que carrega no bolso crápulas como o Sr. Leonardo Bandarra e a digníssima sra. Deborah Guerner -, estão fazendo com ele é ultrajante, humilhante, um verdadeiro exercício de sadismo.

O que eu percebo é que ele, o Tiririca, está sendo vítima de preconceito. Puro e mero preconceito. A elite bem sucedida do país não aceita, fica incomodada quando um sujeito legítimo do povo, emergido das camadas mais humildes da sociedade consegue driblar as adversidades do destino, do acaso e ser alguém na vida. Mas alguém na vida que toma o lugar deles, evidentemente. O presidente Lula foi vítima desse tipo de descaso social, assim como o palhaço Tiririca está sendo. Quantas vezes não jogaram na cara do Lula que o diploma de torneiro mecânico dele era insuficiente para governar o país. Agora eu questiono: o doutor honoris causa Fernando Henrique Cardoso fez um governo à altura do torneiro mecânico Luiz Inácio da Silva? dúvido. É, às vezes é vantagem ser sapo do que príncipe nesse conto de fadas que é a vida.

Se Tiririca sabe ler e escrever? Se o fato dele ser semi-analfabeto é um empecilho para ser deputado federal? Que mude as leis, as regras do jogo então. Que exigem que um parlamentar tenha, no mínimo o 2º Grau Completo e, de preferência, o mais difícil, a ficha limpa, claro.

"Fico feliz em ser eleito o palhaço do ano enquanto que pessoas ditas sérias matam em guerras como a do Vietnã", John Lennon, em 1969.

Fiquei revoltado quando a reportagem do Fantástico, um programa dito coerente, pertencente à uma emissora tão “ímpia” desqualificar, no horário nobre, a figura humana da pessoa que se esconde por trás do pseudônimo Tiririca, expondo suas mazelas ortográficas como se fosse um naco de carne de segunda. Definitivamente, a hipocrisia humana dá câncer!

Nos anos 60, quando John Lennon e Yoko Ono fizeram um Bed-in pedido a país no mundo, os jornais mundiais o classificaram como o palhaço do ano. De um sarcasmo perturbador, o ex-beatle respondeu na veia: “Fico feliz em ser eleito o palhaço do ano, enquanto que pessoas ditas sérias matam em guerras como a do Vietnã”. Pois é, fico feliz que pessoas “semi-analfabetas” como o Tiririca cheguem ao Congresso, enquanto homens ditos cultos, intelectuais e acadêmicos, se afundam em escândalos como o da Caixa de Pandora.