Obama outra vez e ainda bem

Gosto do Blaclk Power do Barack Obama e de toda a sua beleza afro…

Não é que, superando minhas expectativas, o Obama se reelegeu novamente presidente da maior “potência” do planeta! Não votei nele, claro, nem entendo batatinha de política, sobretudo de política norte-americana, mas o cara está lá outra vez e ainda bem porque não seria nada fácil aguentar aquele almofadinha do Mitt Romney, com sorriso amarelo do Capitão Guapo, da Corrida Maluca, na cara por quatro longos anos.Espero que a minha tia Magui, a jeca mais tonta do pedaço, tenha engolido a seco a vitória do Obama porque ela queria que ele perdesse por puro preconceito. Sim, minha gente, tia Magui, a jeca mais tonta do pedaço, pasme, em pleno século 21, ainda é racista convicta. “Não gosto de preto”, diz ela de boca cheia, mas cabeça vazia.Bom, de qualquer forma, Obama ou Romney, seja lá quem tenha ganhado, da torcida que se tenha feito, as eleições nos Estados Unidos provaram que, à revelia da “crise econômica” que passa o país, o mundo ainda se curva e depende, pelo menos acha que depende, em vários sentidos da América. E a pergunta que faço, de cretino para cretino é, por que meu deus – e evoco deus por pura expressão porque deus não existe – o resto do mundo prende a respiração, sente frio na barriga toda vez que algo “importante” acontece por aquelas banda?

Outro dia estava almoçando e quase engasguei quando ouvi um peão submisso do capital estrangeiro daqueles, que conversa pelos cotovelos sem saber de nada, assim como eu, dizer que o motivo de, todo mundo ficar ligado nas eleições dos Estados Unidos, sobretudo nós os brasileiros, era porque dependemos muito do dinheiro americano.

Besteira e das grandes. Já faz um bom tempo, mas um bom tempo mesmo que o dólar saiu de moda e que o Brasil, em toda a minha ignorância econômica, já criou uma política protecionista contra a dependência financeira norte-americana. Não me pergunte como, mas não dependemos mais tanto assim do Tio Sam. E quer saber? Eles dependem mais da gente do que o contrário. Ou você acha que eles facilitaram o visto para lá para os brasileiros por generosidade anglo-saxão?

O que gosto e acho legal da América e do povo norte-americano não é o dinheiro deles, mas a cultura e de tudo de bom que eles nos deram ao longo desses anos todos dentro deste seguimento. Desde os filmes fabulosos produzidos em Hollywood, com seus, John Waynes, Gary Coopers e Jimmy Stewarts, passando por divãs que até hoje me encantam e seduzem como, Marilyn Monroe, minha eterna catedral de carne, e Grace Kelly, Liz Taylor e por aí vai.

Sim, temos também a música cerebral e universal de Bob Dylan, Paul Simon, Don Mclean, James Taylor, passando por tantos outros, além, claro, da literatura de Jack Kerouac e de toda turma beatnik, sem deixar de mencionar William Faulkner, Philip Roth, para ficar em alguns nomes, além de gênios das artes plásticas que amo, entre eles, Jack Polock e o meu preferido de todos, Edward Hopper.

Por tudo isso e muito mais que gosto de Barack Obama e, sobretudo de sua cor, do seu estilo Black Power e de toda a beleza afro de sua família também, com a charmosa Michelle Obama sempre ao lado, por sinal, uma das mulheres mais lindas do nosso tempo. Contudo, o grande presidente norte-americano para mim foi e sempre será John F. Kennedy, mas não me pergunte por que já que o cara não foi do meu tempo, mas acho que é por causa daquela velha mania que tenho de ser saudosista de um tempo que não vivi.

* Este texto foi escrito ao som de: American pie (Don McLean – 1971)

Tributo à Legião Urbana foi para fãs

Wagner Moura surta e emociona os fãs de Legião Urbana em tributo…

A Legião Urbana marcou a minha vida e a de milhares de pessoas. Assim como os Beatles e as minhas duas sobrinhas, a banda que nasceu em Brasília, a cidade que adotei como minha morada, por diversas razões tem uma importância visceral em minha jornada e as letras profundas, sentimentais e sinceras de Renato Russo até hoje calam fundo em meu coração. Sei lá, é como se todos eles fossem parte de uma nuvem mágica lá no céu onde, toda vez que eu me sinto por baixo e triste, posso esconder.

De modo que vi ontem, na MTV, a reprise do tributo à maior e mais emblemática banda do país com a alma em suspenso, delirante, tremendo. A vontade de chorar foi grande, mas de onde elas brotam agora adormece um poço seco e profundo, enfim…

É claro que Renato Russo fez falta e como fez, ele sempre fará falta, mas nada foi tempo perdido porque cada estrela pareceu uma lágrima ali. “Legião Urbana, porra!”, gritou Wagner Moura, o front leader escolhido por Dado e Bonfá para representar o eterno líder da Legião no Espaço das Américas, em São Paulo, naquelas noites do dia 29 3 30. “O que você faria se os caras da banda que você ouviu desde moleque te chamassem para cantar com eles?”, pergunta o artista baiano, num making of sobre os ensaios para o show.

E ele não titubeou e vou falar uma coisa para vocês, como eu queria estar ali com minha estrela da manhã e da noite… Grande ator que todos nós sabemos que ele é, Wagner Moura se mostrou também um cantor competente, emocionando os milhares de fãs in loco e pela televisão. E, foi tomado por essa emoção que ele surtou em cena desafinando em algumas faixas, mas nada que o calor do momento não perdoasse, afinal, show ao vivo é assim mesmo, 100% emoção, adrenalina.

Que assistiu o making of dos ensaios no estúdio notou que ele não só canta direitinho, como toca muito bem bateria e violão, mandando ver numa versão virulenta de Desire, do U2. E olha só, não tem nada mais emocionante e bonitinho do que ouvi-lo cantar a tristonha, A via láctea. Aliás, essa canção e Esperando por mim fulminaram o público de surpresa já que a Legião Urbana nunca tocou, por motivos óbvios, uma faixa do último disco da banda, A tempestade ou o livro dos dias ao vivo.

Claro, algum espírito de porco vai reclamar que o som estava capenga em algumas canções e os instrumentos desafinados e estavam mesmo, mas e daí, isso é o nervosismo da, talvez, última apresentação de Dado e Bonfá como legionários. Eu, particularmente achei fofo Bonfá cantar O teatro de vampiros na batera, uma música, diga-se de passagem, que ele escreveu a melodia e a versão blues de Geração Coca-Cola de Dado foi de arrepiar. Na verdade eu já conhecia aquele arranjo, mas sem a gaita e ouvir o hit assim, ao vivo, para uma plateia de alucinados, foi emocionante.

Amoroso com os companheiros de palco, Wagner Moura não cansava de dizer que era apenas mais um fã e mero coadjuvante ali e, citando o ídolo Renato Russo, reafirmou que a verdade Legião Urbana “somos nós, os fãs”. Assim, entre desafinações, falhas de som e nervosismo quem, vertiginosamente, roubou a cena foram os quase 10 mil órfãos de Renato Russo que, ensandecidos como numa verdadeira religião urbana cantaram em uma só voz, quase todas as 28 músicas apresentadas. Só um imbecil não percebeu que esse show tributo foi feito para os fãs saudosos e o que importava ali era a diversão.

“Foram um dos dias mais emocionantes da minha vida, cara!”, desabafou o ator e cantor baiano.

Acredito para milhares de fãs da Legião Urbana também. Força Sempre!

* Este texto foi escrito ao som de: Música p/acampamento (Legião Urbana – 1992)

Videoteca Básica (02) Manhattan

“Digam o que quiserem. Ela é demais, não é?”, diz o personagem de Woody Allen, sobre Nova York.

Manhattan é a obra-prima de Woody Allen, o filme em que ele escancara sua paixão à cidade que tanto ama, a mais bela declaração de amor de um artista às suas raízes. Bem, já vi essa pérola um quinhão de vezes e a cada sessão é uma descoberta nova, uma sensação inebriante dentro de mim e agora ficou fácil de entender porque os franceses adoram com fervor esse trabalho. “Nova York era a cidade dele. E sempre seria”, se derrete ele logo na abertura para mais tarde endossar: “Está é uma bela cidade digam o que quiserem. Ela é demais, não é?”.

No filme, Woody Allen é Isaac Davis, um escritor que anda insatisfeito com o trabalho que tem como roteirista de um programa de televisão e anda de beijos e abraços com a adolescente Tracy (Mariel Hemingway). Um dia, num surto de heroísmo profissional se demite e entra em crise existencial. “Que dinheiro… Tenho o suficiente por um ano se eu viver como Mahatma Gandhi”, desabafa meio inseguro, ao melhor amigo, vivido pelo ótimo Michael Murphy.

Mas ao conhecer a pretensiosa, mas charmosa jornalista Mary (Diane Keaton), vê um novo Sol brilhar no horizonte da cidade que tanto ama, mesmo que eles discordem sobre esculturas plexigas, Ingmar Bergman e Van Gogh. “Em algum lugar Nabokov está sorrindo”, ironiza ela, no primeiro encontro ao saber que ele anda de caso com uma ninfeta, para logo em seguida cair em seus braços.

Mas com o tempo ambos descobrem que estavam redondamente enganados sentimentalmente e Issac corre pelas ruas largas de Nova York em busca de seu verdadeiro amor, a bela e ingênua jovem, Tracy. “Você é a resposta de Deus a Jó. Você teria acabado com as brigas entre eles. Ele teria apontado para você e dito assim: ‘Eu faço coisas terríveis, mas também faço coisas assim’”, já havia dito ele a ela em outra cena famosa do filme, em que os pombinhos namoram num lírico passeio de charrete por Manhattan. Existe declaração de amor mais inteligente e divertida do que essa?

Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro, o filme é uma pintura com sua fotografia em preto e branco e diálogos lapidares. Daria para escrever um texto inteiro só com eles. Inspirado em sua missão de homenagear a cidade do coração em película, Woody Allen, naquele momento no auge da carreira, não tem o menor pudor em colocar a si próprio e o atores fora do quadro, para privilegiar Nova York com suas paisagens grandiosas e caos urbanos. Mesmo assim, ele não saberia viver em outro lugar. Difícil escolher uma cena que nos encante porque cada uma é melhor do que a outra. Tenho um carinho pela cena do planetário.

Bem construídos, os personagens são adultos, inteligentes, às vezes arrogantes e infantis, mas também divertidos e tensos, sempre arrumando problemas desnecessários numa cidade que parece lhe dar tudo de bom e do melhor e ele prova isso ao elencar sua lista de coisas pelas quais vale a pena estar vivo.

Acho que terei um daqueles trecos passionais, no dia em que conhecer Nova York porque é a cidade que meu amor tanto gosta e conhece como a palma de sua mão. Logo, a Big Apple tem desde já para mim um efeito assim de Pedra de Bolonha e espero um dia reviver aquela clássica cena do charmoso passeio de charrete com as luzes da cidade parecendo estrelas por entre as árvores.

Ah, sim, e quando um dia eu listar as coisas pelas quais vale a pena estar vivo escolherei, entre tantas opções, os belos olhos da Ana Maria Campos. Apesar de tudo…

* Este texto foi escrito ao som de: Classic Gershwin (George Gershwin – 1987)

Videoteca Básica (01) Casablanca

O romance perfeito sem happy end… “Nós sempre teremos Paris”.

Já disse isso uma vez aqui e torno a repetir. Acho que assisti ao filme Casablanca umas 15 vezes e a cada sessão é um vale de lágrimas. E não só isso. Adoro o personagem do charmoso, Humphrey Bogart, o canalha proprietário da boate/Café mais quente do pedaço, Rick Blaine, porque, assim como ele, eu nunca fiquei com a mocinha no final.

Bem, é por esses e outros motivos que escolho esse clássico do cinema americano para abrir minha sessão sentimental, Videoteca Básica, que pretende elencar os 50 títulos mais marcantes da minha vida. Aquelas histórias que, como já disse, me fizeram chorar, emocionar, engasgar com a pipoca ou simplesmente preencheram os vazios da minha alma melancólica.

De longe um dos filmes mais queridos da crítica e do público, Casablanca, que este ano completa 70 anos de vida, é quase uma unanimidade entre os amantes do cinema e até hoje causa suspiros. E por vários motivos. Um deles resvala no enredo mirabolante desenvolvido pelos irmãos roteiristas, Julius e Philip Epstein que, escorados na peça teatral escrita e nunca encenada pelo casal, Murray Burnett e Joan Allison, Everybody comes to Rick’s, criaram uma trama que flerta com sofisticado e moderno thriller de espionagem, os fantasmas de uma guerra vigente e uma história de amor cujo desfecho foge do habitual happy end. Mesmo assim, a fita se transformaria num dos maiores mito do cinema romântico norte-americano.

“Tem romance para as mulheres e política para os homens”, chegou arriscar, na época, um dos poderosos produtores de Hollywood. Bem, acertou na mosca. Mas acontece que Casablanca vai além dessa simplista observação machista. Tanto é que a Academia concedeu três importantes Oscars à produção: Melhor Filme, Diretor e Roteiro Adaptado. Não é pouca coisa.

Pontuado por diálogos venenosos, cínicos até, que espargem entre uma cena e outra, por sinal, em abundância, o filme, dirigido por Michael Curtiz, tem sua força no poderoso elenco, com exceção de Bogart, formado por estrelas europeias. Do dissimulado, Claude Rains, passando pelo assustador, Peter Lorre, até chegar ao sonhador, Paul Henreid, todos brilham.

Mas quem salva a “guerra” e os nossos corações, claro, é a estonteante, Ingrid Bergman e o elegante, Humphrey Bogart. Ela uma nórdica indecisa que se apaixona pelo individualista Rick, depois de achar que o marido morreu no campo de concentração.

Mas acontece que a sorte dele estava à solta e, de volta aos braços da mulher, tem a incumbência, como líder da resistência, salvar vidas de perseguidos na luta contra o III Reich. Para tanto, irá contar com a curiosa ajuda do ex-amante da esposa, o ambíguo e “defensor das causas nobres”, Rick.

Sincero na forma cafajeste como expõe valores intocáveis como heroísmo, fidelidade e amizade, Casablanca ajudou a eternizar a beleza de uma das atrizes mais linda do cinema, a sueca Ingrid Bergman. Preste atenção em como os seus brilhantes olhos azuis destoam na fotografia noir do filme, em sua primeira aparição na trama. Radiante como os olhos da bela e charmosa jornalista Ana Maria Campos…

Enfim, Woody Allen, quem entende muito bem do assunto, homenageou o filme escrevendo uma peça célebre cujo título, é uma brincadeira com a famosa frase de Rick, Play it again, Sam, seu fiel amigo que se debruçava sobre piano para tocar a inesquecível música tema dos pombinhos exilados, a marcante, As time go by.

Não se iluda. Eles podem ter Paris. Mas nós teremos para sempre, Casablanca. Eu vou guardar para sempre em minha memória o olhar radiante da minha estrela da manhã e da noite…

* Este texto foi escrito ao som de: Song for swingin’ lovers! (Frank Sinatra – 1956)

The top Beatles’ B side

O lado B dos Beatles era tão sensacional quanto o lado A

Não sei vocês, mas em todos os discos do fab four, sempre teve aquela música escrita por um dos integrantes da banda que não fez enorme sucesso ou não entrou para a clássica galeria de canções mais famosas dos meninos de Liverpool – o que era bem difícil de acontecer -, mas que marcaram minhas audições de adolescente apaixonado pelos Beatles.

Era sempre uma faixa cativante e que, por algum motivo bem particular, seja do ponto de vista sensorial, emotivo ou empírico, mexia com a minha cabeça. Uma emoção tão inesquecível, indelével e gostosa como a primeira vez que vi o mar ou a primeira vez que a doce Ana Maria cruzar em meu caminho. Uma sensação da qual guardo com carinho em meu relicário de lembranças para sempre.

Essas canções não eram, necessariamente, B Side dos próprios discos de estúdio da banda ou mesmo dos singles, até porque, algumas delas, às vezes faziam parte até mesmo do lado A de algum álbum, mas que se perderam na sombra do sucesso marcante daquele trabalho.

Como bom beatlemaníaco que sou, tive a paciência e o prazer de elencar os meus B Side preferidos de cada um dos treze discos de carreira dessa banda que é a mais fantástica de todos os tempos.

Espero que algumas dessas canções tenham tocado você também.

P.S. I Love you – 1963

(Please please me – Lennon/McCartney)

Os vocais da fase mais ingênua dos Beatles eram sensacionais, acho que influenciados pelos incríveis grupos negros da Motown, não sei. Escrita por Paul como se fosse uma carta para a namorada da vez, P.S. I love you tem construção melódica sofisticada, com a voz de apoio de John na segunda parte e o delicioso fraseado: “P.S. I Love you, you, you, you”. Preste atenção nas batidas contagiantes das maracas de Ringo Starr.

All I’ve got to do – 1963

(With The Beatles – Lennon/McCartney)

Escrita por John, que buscava a sonoridade de Smokey Robinson, All I’ve got to do é daquelas músicas para se ouvir agarradinho ao amor da sua vida, sobretudo, como diz a letra, se você estiver mal-intencionado. Gosto da aceleradinha que a faixa ganha a partir da segunda estrofe, o contagiante backing vocal de Paul e aquele sensual huummm da última frase cantando por um matreiro Lennon.

If I feel – 1964

(A hard day’s night – Lennon/McCartney)

Sempre achei que, por causa da melodia, If I feel fosse uma composição de Paul e talvez o crédito se resume apenas a essa parte, mas a letra é ponteada pela fina ironia de Lennon que traz versos como: “Descobri que o amor é mais do que andar de mãos dadas”, diz o cantor, que falava na época de adultério. A parte em que Paul alcança uma nota mais alta é de arrepiar os cabelos da nuca.

What you’re doing – 1964

(Beatles for sale – Lennon/McCartney)

De uma engenhosidade pop incrível para época, What you’re doing, outra da safra de Paul McCartney, traz como inovação a dupla de compositores gritando a primeira palavra de cada verso, com o baixista conduzindo o resto. Além do piano estiloso de George Martin, a faixa conta ainda com poderosas marcações de bateria, no começo e no fim, de Ringo, uma homenagem ao mestre Phil Spector. Todos os instrumentos têm participações de luxo, confira.

Tell me what you see – 1965

(Help! – Lennon/McCartney)

Discordo quando o crítico musical Tim Riley diz que, Tell me what you see seja a faixa mais fraca do disco Help! Acontece que esse álbum é bom demais, com sucessos inesquecíveis como a soberba, Yesterday. Gosto mais uma vez do exercício vocal de Lennon e McCartney cantando juntos a primeira parte e Paul conduzindo as “respostas”. E ainda tem os sensuais huuummm do final. “Nuvens grandes e negras vão passar/E se você confiar em mim eu farei o seu dia brilhar”.

I’m looking through you – 1965

(Rubber soul – Lennon/McCartney)

Apaixonei-me por uma garota que me desprezava (acho que me despreza ainda) e não olhava para mim (nunca olhou), mas através de mim. Toda vez que ouço I’m looking through you me lembro dessa garota que quebrou meu coração. E a canção tem razão de ser em minha vida quando li que o Paul a escreveu depois de se sentir negligenciado pela gatinha ruiva Jane Asher. “Foi devastador ficar sem ela. Foi quando escrevi a canção”, confessou o baixista, um fofo, não?

And your bird can sing – 1966

(Revolver – Lennon/McCartney)

John Lennon até o talo é de estranhar que o pai desprezasse um filho proeminente de forma tão grosseira. “Um horror, uma canção descartável”, disse certa vez. O fato é que a faixa é um dos B Side mais marcantes escrito pela dupla, com um riff de guitarra poderoso e letra enigmática que, segundo especialistas, seria direcionada a Paul McCartney. Será?! “Quando suas possessões começarem a te consumir/Olhe em minha direção, estarei por perto”, canta.

Getting better – 1967

(Sgt Pepper’s lonely hearts club band – Lennon/McCartney)

“Está ficando melhor o tempo todo”. O otimismo de Paul surge nesse trabalho solar como uma manhã radiante de primavera e foi exatamente nesse clima, tanto de espírito, quanto de tempo, que o esboço da faixa surgiu. Conduzida por sincopados riffs de guitarras, a música traz ainda uma parede sonora de fundo meio etérea advinda dos instrumentos indianos usados por George Harrison, como a cítara e a tambura. “Não poderia ficar pior”.

Flying – 1967

(Magical mistery tour – Lennon/McCartney/Harrison/Starkey)

Poucas vezes a expressão, “andando nas nuvens”, foi tão bem interpretada musicalmente, quanto nessa faixa de sonoridade sobrenatural. Isso se os quatros meninos de Liverpool escreveram a canção tendo isso em mente. Experimental ao extremo, a música me deixa de cabelos em pé quando ouço aqueles vocais de anjos celestiais atormentados. E pensar que Stanley Kubrick quase usou a música no clássico, 2001 – Uma odisséia no espaço…

 I’m so tired – 1968

(The Beatles – White album – Disc one – Lennon/McCartney)

Arrastada, meio sonolenta, I’m so tired captura com perfeição o estado de espírito de John Lennon que andava puto da vida na Índia onde estava há três semanas, em retiro espiritual com os outros Beatles, a mulher Cynthia e amigos.  Sem drogas, sem álcool, sem os seus cigarros, sem Yoko Ono e também cansado por não conseguir dormir, a angústia só aumentava. “Você sabe que eu te daria tudo que tenho por um pouco de paz de espírito”, se desespera.

Long, long, long – 1968

(The Beatles – White album – Disc two – George Harrison)

Não vou mentir para você, não, mas a primeira vez que ouvi esse lamuriento canto fúnebre de Harrison me deu um medo desgraçado, sobretudo pelo final sobrenatural, meio do além, vindo de um instrumento de sopro indiano chamado shehnai. A bateria dramática de Ringo e a voz distante de George, abafada pelo seu violão e o órgão Hammond de Paul só atenuam o clima de terror. Sinistro…

Only a northern song – 1969

(Yellow submarine – Harrison)

Na rua da minha pré-adolescência tinha uma mulher linda com suas grandes ancas, tipo aquelas das histórias de Nelson Rodrigues, e toda vez que a via ficava excitado. Estranhamente, toda vez que ouço Only a northern song, lembro dessa minha musa da rua da minha pré-adolescência. Não me pergunte o porquê, talvez por conta daqueles arranjos estranhos, meio lascivos, vai saber.

Sun king – 1969

(Abbey Road – Lennon McCartney)

Imagens bucólicas como o cantar dos grilos, uma guitarra meio latina bailando no ar e letra poliglota, com fraseados em italiano, espanhol e coisas do tipo. Não sei por que, mas Sun king me remete à cultura de países como Peru, Chile e Bolívia. Para mim, será sempre a visão dos Beatles dos povos latino-americanos e não me esqueço do personagem Galeno, em Os anos rebeldes, todo riponga, ouvindo essa música. Tudo a ver.

I’ve got a feeling – 1970

(Let it be – Lennon/McCartney)

Durante um bom tempo da minha fase de aluno do 2º grau, gostava de ouvir essa canção deitado no chão, com os ouvidos grudados ao alto-falante, antes de pegar a bike e ir para escola, só para sentir a energia contagiante e estimulante da introdução. Acho o vocal visceral de Paul um grito de convocação à batalha, à guerra. “Tenho sentido algo, um sentimento aqui dentro/Um sentimento que não posso esconder”, grita o baixista.

Este texto foi escrito ao som das respectivas faixas citadas.

Discoteca Básica (50) Parachutes

Chris Martin (esq.) e a banda na época em que ele ostentava lindos cachos louros

Tem uma música dos Beatles de 1965, Yes it is, que diz mais ou menos assim: “Por favor, não vista vermelho essa noite porque é a cor que meu bem usava”. Admito que hoje em dia é extremamente doloroso para mim ouvir Coldplay porque é a banda que minha estrela da manhã e da noite gosta. Não tem jeito cara, toda vez que ouço uma canção do grupo deixo rolar uma lágrima dentro do meu peito, pela minha face.

De modo que já deu para sentir que foi barra pesada escrever esse post, o último da série Discoteca Básica. Essa noite, baby, eu sou como aquele garoto atormentado da canção dos Smiths. Mas acontece que não poderia terminar minha coleção virtual sem a banda inglesa mais badalada dos últimos tempos e uma das minhas preferidas, claro, ao lado dos Beatles, Stones e Oasis. Simplesmente porque é a banda que o amor da minha vida ouve cara!

E, a cada disco novo da banda que sai, a cada ano que passa, mais tenho certeza de que, Parachutes, o primeiro álbum gravado por eles em 1999 continua sendo o melhor registro não apenas da carreira da banda, mas o mais tocante da década de 90. De uma melancolia sem igual e sinceridade sonora contundente, difícil escolher uma faixa desse trabalho que não me comova, me deixando no chão e algumas letras parecem ter sido escrito para mim. Mais do que isso, como se fosse versos meus para o meu doce e meigo anjo.

“Olhe para as estrelas/Olha como elas brilham por você/E por tudo o que você faz/Sim, elas eram todas amarelas”, cantar Chris Martin, na solar Yellow. Aliás, vai ficar para sempre em minhas recordações cinza, o show do Coldplay na Via Funchal, em São Paulo, o primeiro deles aqui no Brasil, com bolas gigantes amarelas saltando sobre o público.

“Acho que estas são as melhores canções do mundo. Mas, se eu dissesse isso, iriam achar que eu sou muito arrogante”, disse Martin na época do sucesso do disco, num rasgo de sinceridade tímida e modéstia verdadeira.

Delicado, tímido, exuberantemente triste e humano, Parachutes é daqueles trabalhos em que dá vontade de ouvir para sempre até o fim dos tempos ou no colo do seu grande amor, mesmo que seu grande amor seja a criatura mais esnobe e insensível da face da Terra. E sabe por quê? Porque as canções de Parachutes parece esconder sutis pedidos de desculpas e perdão eterno.

“Eu quero viver a vida e nunca ser cruel/E eu quero viver a vida e ser bom para você/E eu quero voar e nunca descer/E eu quero viver a minha vida e ter amigos ao meu redor/Nós nunca mudamos, não é?”, diz a letra da arrastada, We never change.

Aquele globo terrestre laranja sonho, laranja desespero cercado por todos os lados pela escuridão estética da dor é o signo da minha alma torturada, faíscas da minha agonia existencial. “Eu te afastei?/Eu sei o que você vai dizer/(…) Te prometo que sempre vou zelar por você”, sussurram em Sparks.

Não há dias que não acordo com o pungente sentimento de perda rondando em minha cabeça, suicide’s days in my my and my soul, every day, baby. Qualquer dia desses, eu crio coragem e tiro de mim mesmo minha vida só para dar de presente a ela, em homenagem a sua paz, coroando meu tormento.

“Quando eu contei meus demônios/Vi que havia um para cada dia/(…) E nem tudo está perdido/Eu nunca quis fazer mal a você/É isso que eu vim aqui para dizer/Mas eu estava errado, então me desculpe”. (Everything’s not lost).

O meu sonho para toda a vida é beijar os cachos louro do fofo Chris Martin. O meu sonho para vida toda é ter os olhos, a boca e o corpo da garota desprezo que roubou meu coração e minha vontade de viver.

* Este texto foi escrito ao som de: Parachutes (Coldplay – 2000)

Eu e os sete pecados capitais

Os sete pecados na visão do genial pintor renascentista Hieronymus Bosch

Eu tinha lá meus 10, 11 anos e me preparava para a primeira comunhão. Tirava até onda de coroinha e, mais do que a hóstia, o que eu queria mesmo era beber o que tinha naquele caneco dourado do padre. Mal sabia que a tal misteriosa bebida era vinho e que um dia me tornaria um acanhado alcoólatra. Castigo divino? Que nada… Peça do destino.

Cheguei a cogitar, mesmo que num átimo de segundo, ser padre, era a tal fé que nunca tive agindo ao meu favor, mas a realidade da vida hipócrita que nos cerca me fez ver que nunca tive vocação para santo e nunca vou ter. A certeza disso eu tive numa noite de pesadelo, quando sonhei que estava numa orgia celestial com nosso senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora, alguns santos do alto escalão e diversos capetinhas. Ou seja, na pior das hipóteses, por tamanha heresia, eu iria padecer para sempre nas profundezas do inferno, certo?!

Errado, aqui estou eu até hoje só para debulhar os meus sete pecados capitais porque, como já dizia o velho Billy Wilder, ninguém é perfeito. Acredite, por causa de um deles ou de todos, ainda vou parar no quinto dos infernos e que assim seja.

Gula

Um dos grandes sucessos do mago da teledramaturgia Dias Gomes, a novela Saramandaia foi exibida pela primeira vez em 1976, ano em que nasci. Mas isso não impediu que, graças à sessão nostalgia de alguém, eu pudesse reviver alguns dos antológicos personagens do folhetim. Entre eles estavam a d. Redonda (Wilza Carla), que por causa de sua gula, comia, comia sem parar, até que um dia explodiu de tanta gulodice. Qualquer dia desses, eu vou explodir também de tanta gula.

Avareza

Já disse isso aqui uma vez e vou repetir. Sou uma pessoa de generosidade incrível e divido tudo que tenho, menos, claro, minha escova de dente, a atenção das minhas sobrinhas e meu eterno amor platônico. Acho que minha grande cobiça é desejar ter a atenção da minha eterna estrela da manhã e da noite. Como é algo que acho que nunca vou conseguir, então não configura o pecado da ganância. Será?!

Luxúria

No filme Amarelo manga, em dado momento da trama o diretor Cláudio Assis faz uma pequena intervenção na história para dizer, olhando com o olho da verdade para câmara, que o ser humano se resume a duas coisas: estômago e sexo. Acho que é isso mesmo, para nós, pecadores, tudo é comer e comer. E não tem nada que desejo mais do que a mulher do próximo, desde que a mulher do próximo não seja a minha, evidentemente. A pior coisa que tem na vida é desejar quem mais queremos. E você olhar para o seu objeto de desejo e não poder fazer nada. Sofro desse mal todos os dias.

Ira

“Quando eu sou boa eu sou ótima, quando eu sou má sou melhor ainda”. Essa pérola foi dita pela escandalosa e extravagante atriz Mae West, que era assim, digamos, uma espécie de Dercy Gonçalves dos Estados Unidos. Bem antes de a Dercy Gonçalves dar o ar da sua graça por aqui. Pois bem, se tem um pecado que não tenho vergonha de esconder é o da ira, nutro ódio mortal por diversas pessoas e coisas. Eu adoro odiar e algo me dá forças para seguir em frente, portanto, não me faz eu ficar com raiva de você.

Inveja

Existe inveja boa e existe a inveja má. Eu tenho as duas. Se isso é bom ou ruim não sei dizer, só sei que não tenho a menor vergonha ou mesmo hipocrisia de esconder esse pecado. E sabe qual é a maior inveja minha? Daquelas pessoas que conseguem ter a atenção da AMC. Ah, se eu tivesse dinheiro, se eu tivesse poder, se eu fosse canhalha… Viu, o quanto de inveja eu tenho?


Preguiça

Assim como a avareza, acho que a preguiça é um dos pecados capitais que não me pegou, não sei. Não é que eu goste de trabalhar, apenas não tenho medo de encarar a labuta nossa de todo o dia, de botar a mão na massa. E para quem nunca teve nada de mão beijada, a única solução mesmo é cair da cabeça no trabalho que, dizem, edifica o homem…

…Pensando bem, tenho preguiça de gente chata, esnobe e pobre de espírito…

Soberba/Vaidade

Não sei se foi Hamlet ou Macbeth, a certeza resvala em Shakespeare, mas em dado momento da história de um desses heróis, a frase que perdura entre uma vírgula e um ponto é: “Vaidade, da vaidade, sempre vaidade, nada mais que vaidade”. Bem, se não for isso é algo parecido. Não tem nada que me deixa mais triste do que gente soberba, gente que se acha melhor, superior ou acima do bem e do mal. Mais ainda quando essa pessoal é alguém que a gente admira e ama.

Este texto foi escrito ao som de: Entertainment! (Gang of four – 1979)

Top 10 – The Beatles Forever

Algumas coisas na vida me tocam de forma mágica, me fazendo sorrir, sentir feliz, mais leve e soberano, com vontade, assim, de andar sobre

Mosaicos de Beatles para sempre em nossas vidas...

as nuvens e beijar o céu, as estrelas e o Sol. Coisas encantadoras como os sorrisos angelicais das minhas

sobrinhas, o olhar cintilante da Ana Maria Campos, um filme do Antonioni ou Woody Allen, um bom livro e as inesquecíveis e eternas canções dos Beatles. E aquela velha história. Uma pessoa que não gosta dos Beatles não pode se um bom sujeito. Um dia, perguntei ao grande amor da minha vida quais eram as canções dos Beatles que ela mais gostava e estou esperando a resposta até hoje…

Bem, encanto ela não me fala as suas, deixo registrada aqui as minhas dez músicas mais marcantes do fab four, aquelas que vou levar dentro de mim para a Lua, Marte ou algum lugar mais distante, como se fossem mosaicos sonoros em meu coração e em minha alma:

1. Help! (1965)

O primeiro disco dos Beatles que comprei foi um vinil do Help! Escutei tanto que achei que fosse furar aquele bolachão, mas essas audições intermináveis me ajudaram, mais tarde, aprender tocar quase todas as músicas do disco. Apesar do ritmo alegre, a faixa traz uma letra marcada pelo desespero e venero a versão acústica e melancólica que o Noel Gallagher do Oasis fez…

2. Yesterday (1965)

É a faixa mais marcante dos meninos de Liverpool, sem dúvida, com uma melodia de um lirismo incisivo e letra enigmática, abstrata que quer dizer tudo e nada ao mesmo tempo. E pensar que o Paul, o pai da criança, a batizou originalmente de Ovos mexidos... Coisa de gênio sensível, né? No show que fez no Brasil, o velho McCa cantou esse hit com o mesmo violão que embalava a canção, nos anos 60, um luxo…

3. Norwegian wood (This bird has flown) (1965)

Foi a primeira música dos Beatles que me jogou no chão pelo sua grande beleza. Uma daquelas canções que faz a alma da gente tremer, com seu arranjo remetendo os caminhos da índia. O título é um dos mais exóticos da banda e faz alusão, metaforicamente, de uma possível amante de John. Na minha cabeça de menino de 12 anos, tentava imaginar o que seria aqueles passados de madeira noruegueses. Quer saber? Qualquer dia desses saio daqui e vou viver na Escandinávia. Talvez na Suécia ou mesmo a Noruega. Lá as mulheres têm sardas e o Sol é o da meia-noite…

4. Rain (1966)

Gravada em 1966 e lançada como Side B do single de Paperback write, a sensorial Rain evoca nuanças místicas, psicodélicas dentro de estados alterados de consciência. Depois de escutar a faixa, com todas as suas sutis experimentações sonoras, percebemos que era só um pequeno aperitivo para o que viria em ternos de vanguarda musical. E estou falando de coisas como Revolver, Sgt. Pepper e por aí vai… Mas antes de tudo, é claro que tenho adoração por chuva, um detalhe que me aproximou e muito da canção.

5. With a lillte help from my friends (1967)

Um presente da dupla Lennon & McCartney para o amigo Ringo, é a faixa que mais gosto, cantada pelo eterno baterista dos Beatles. E olhe que o páreo é duro, já que Yellow submarino é um sundae, um sundae… Conduzida por uma interpretação majestosa de Joe Cocker, tem um dos versos mais inspirados de Lennon, no seu velho estilo de fazer trocadilho com as palavras e situações: “O que você vê quando apaga as luzes?/Não posse te dizer, mas sei que é meu”.

6. Strawberry fields forever (1967)

Proustiana até o talo, Strawberry fields forever evoca sonhos e reminiscências da infância com sabor de fruta madura. Talvez uma das letras mais líricas e geniais de Lennon – ele de novo – um ser humano sensível sempre com sua alma machucada e carregada de dores interiores. Os versos mágicos são. “Viver com os olhos fechados é fácil/Tudo o que se vê são mal-entendidos”.

7. Lucy in the sky in the diamonds (1967)

Quem aí já não leu Alice no País das Maravilhas? E quem aí não traçou um paralelo de imediato entre esse clássico livro “infantil”, de Lewis Carroll, com a psicodélica canção dos Beatles escrita por Lennon (sempre ele!), após receber um desenho de escola do filho que retratava o título acima. Um dia ainda vou mergulhar num rio de chocolate e comer nuvens de algodão doce. Vou passear com as minhas sobrinhas num trenzinho feito de biscoito Passatempo da Nestlé. E minha adorável Ana vai brilhar num céu de diamantes.

8. Hey Jude (1968)

Minha existência como homem de cultura se deve a essa canção, que é assim, vamos dizer, uma espécie de mantra de delicadeza e amor ao próximo. Estava a um passo de me tornar um jogador de futebol daqueles bem desleixados, mas larguei tudo depois que escutei a versão de Kiko Zambianchi na novela Top Model. E quem aí disse que novela não é cultura.?

Here comes the sun (1969)

Sufocado pelo ego da dupla Lennon e McCartney, o tímido e discreto George Harrison teve poucos momentos de brilhantes insights dentro da maior banda de rock do planeta. Mas quando isso acontecia, deixava os outros no chinelo, sempre acompanhado por suas letras simples e melodias de uma delicadeza sem igual. Mais tarde, ao gravar seu primeiro registro solo, o álbum triplo All things must pass, mostraria que tinha talento de sobra para duelar com qualquer grande artista de sua geração.

Da fase “Beatles”, gosto da épica While my guitar gently weeps, mas Here comes the Sun é um relicário de sutileza com sua essência riponga. Toda vez que ouço essa canção, me vem à cabeça a delicadeza de ser da gatinha Ana Maria Campos.

10. Let it be (1970)

Mais do que uma canção, Let it Be é uma oração, mas uma oração não dedicada à Nossa Senhora, como muitos pensam, quando o Paul McCartney canta “Mother Mary”, mas a sua própria mãe, que se chamava Maria. É uma canção que nos faz sentir perto de “Deus”. E para quem não acredita no Ser Supremo, a canção é a ideia mais próxima desse conceito. Dúvida? Então põe o seu vinil empoeirado para tocar e deixe as que ondas celestiais tomem contam de sua alma.

* Este texto foi escrito ao som de: The Beatles (1962 – 1966/ 1967 – 1970)

Jogo de perguntas e respostas

A minha infância tem cheiro de hortelã...

Se eu fosse você não iria ver o Tony Ramos e a Glória Pires, não. Mas sim o blog da Luísa. Ela tem 21 anos e, embora aparentemente inofensiva, é de um humor negro digno de roteiro de Billy Wilder. Acredite, a sinceridade da Luísa é sua melhor qualidade. Ah, sim, o espaço se chama Um pouco de Alice… (http://umpoucodealice.blogspot.com/) e, como o nome já diz, a guria é apaixonada, obsessiva até pela personagem criada por Lewis Carroll. E porque não?! Afinal, todo mundo tem um pouco de Alice dentro de nós, não é verdade?! Ou de Rainha de Copas…

Pois bem, outro dia li um troço no blog da Luísa que adorei e resolvi, na maior cara de pau, plagiar a ideia. E acho que é isso. Se for para copiar alguma coisa, que seja algo bom, de gente esperta, inteligente e sensível. E claro, que seja bem feito.

Enfim, trata-se de um jogo de perguntas e repostas direcionados por tópicos pertinentes que regem nova vida, nosso cotidiano em tudo o que fazemos. Ou seja, avaliações, reflexões, medos, frustrações, anseios, desejos, gostos e curiosidades que pautaram e pauta minha trajetória nesse ano ou nos últimos tempos.

É meu momento Alta fidelidade, nada a ver com aquelas bobagens de fim de ano, quando passamos nossa vida a limpo, prometendo mundos e fundos a nós mesmo numa lista infindável de promessas não cumpridas com todo jeito de consciência pesada, numa tentativa tola de garantir uma passagem melhor para a próxima estação. Até porque, na próxima estação, não quero vir encarnado numa pedra, uma margarida ou caramujo. Ando tão decepcionado com o mundo e o ser humano que na próxima estação nem quero aparecer por aqui.

Três alegrias:

1. Minhas duas sobrinhas

2. Ouvir uma canção dos Beatles

3. Ler um bom livro

Três medos:

1. De decepcionar minhas sobrinhas

2. De injustiça e constrangimento

3. De desprezo da pessoa amada

Três objetivos:

1. Conseguir estar vivo no dia seguinte

2. Realizar o sonho da minha mãe

3. Conquistar a amizade da AMC

Três filmes:

1. Se meu apartamento falasse (Billy Wilder)

2. Manhattan (Woody Allen)

3. A noite (Michelangelo Antonioni)

Três saudades:

1. Das minhas sobrinhas, todos os dias, sempre…

2. Dos olhos cintilantes da AMC

3. Da minha infância

Três frustrações:

1. Não fazer parte do seleto grupo da AMC

2. Deixar de existir

3. Não ter visto o show do U2

Um estado de espírito

O Sol cheirando a hortelã…

* Este texto foi escrito ao som de: Black and white America (Lenny Kravitz – 2011)

O homem que veio de longe (Boom)

O casal Richard Burton e Liz Taylor era dinaminte pura dentro e fora de cena

Quantos filmes baseado no teatro do denso dramaturgo Tennessee Williams você já viu? Alguns, com certeza. Os meus preferidos são: Gata em teto de zinco quente (1958) e A noite do Iguana (1964). Tem mais, mas esses dois são perturbadores. O primeiro, protagonizado pelo belo casal Paul Newman e Elizabeth Taylor, essa linda atriz, dona dos olhos mais encantadores e hipnotizantes que já vi no cinema. Fora das telonas, olhos assim, só os da Ana Maria Campos! Ah, os olhos cintilantes da Ana Maria Campos…

Mas como eu ia dizendo, o segundo, dirigido pelo genial John Huston e protagonizado pelo Richard Burton. As duas obras, marcadas pela densidade narrativa costumeira que conduz personagens fortes, todos à deriva diante de seus problemas da alma, em crise e conflito com o mundo.

No obscuro O homem que veio de longe, filme de 1968 dirigido por Joseph Losey a partir de roteiro do próprio dramaturgo norte-americano, esses dramas existenciais surgem com a força de um furacão na pele da esquizofrênica, temperamental e imprevisível milionária Sissy Goforth, vivida pela estonteante Elizabeth Taylor.

Ela mora enclausurada numa paradisíaca ilha do Mediterrâneo e está muito doente. Da dor e do sofrimento que a aflige dia e noite, ela tira forças para infernizar a vida dos criados, entre eles um anão, chefe de sua guarda, e de intrusos que não conseguem enxergar as placas escritas em três idiomas com os dizeres: “Área privativa, por favor, não ultrapassar”.

Um deles é o misterioso forasteiro Chris Flanders (Richard Burton), poeta maldito agora na berlinda conhecido por onde passa como “o anjo da morte”. Seu paradeiro é conhecido pelo afetado vizinho de Sissy, a “Bruxa de Capri”, encarnado por um espirituoso Noel Coward. “Sou um homem que perde muitas amigas”, desconversa Flanders, quando desmascarado.

Casados na época, Liz Taylor e Burton, que já haviam trabalhados juntos em Cleópatra (1960), Quem tem medo de Virginia Woolf? (1966) e no shakespereano, A megera domada (1966), formavam, até então, o casal mais poderoso em Hollywood. Status que ostentaram por mais de 20 anos, sempre protagonizando brigas homéricas e escândalos trepidantes.

Mas, lindos, apaixonados, talentosos e glamourosos, em cena, os dois tinham a química perfeita que encantava produtores, cineastas e o público. Não seria diferente em O homem que veio de longe, onde, mergulhados numa áurea de suspense, trepidosa tensão psicológica e amorosa, constroem uma teia misterioso de sentimentos afetivos destroçados ou como prefere o personagem de Burton: “o choque de cada momento de ainda estarmos vivos”.

Nunca Tennessee Williams foi tão sombrio. Poucas vezes Liz Taylor e Richard Burton tiveram tamanha cumplicidade emotiva em cena.

* Este texto foi escrito ao som de: Stones (Neil Diamond – 1971)